Manuela Juncal. A arquitecta que se fez tecedeira para viver como os operários
Oiça o segundo episódio do podcast Clandestinos, uma série de histórias de pessoas a quem o 25 de Abril devolveu a liberdade mas também o próprio nome.
Estudava Arquitectura na Faculdade de Belas Artes do Porto quando decidiu mudar-se para a aldeia de Brito, em Guimarães, para ser tecedeira numa fábrica. Ficaria na clandestinidade quanto tempo fosse preciso, para “consciencializar” os operários e aprender como viviam. Manuela Juncal, na altura com 22 anos, hoje com 74, manteve o nome próprio e mudou de apelido, para Manuela Gonçalves, e viveu cerca de dois anos na clandestinidade com Tito Amorim, na altura seu namorado, mais tarde marido, ambos da OCMLP: Organização Comunista Marxista-Leninista Portuguesa.
Viveu o 25 de Abril de 1974 com pouca informação, entre uma mão que bateu à sua porta de madrugada e uma viagem de autocarro passada a ouvir rádio, em surdina. Percebeu que os anos de ditadura tinham chegado ao fim e o 1.º de Maio que se seguiu, ainda em Guimarães, provou-lhe isso mesmo: uma praça cheia de gente a gritar “Liberdade”.
Mais tarde desiludiu-se com o maoismo, depois de uma viagem à Albânia. Mas não se arrepende. "Eu vou ser sempre contra a injustiça, contra a opressão, contra a opressão das mulheres, contra o racismo, contra o colonialismo, contra os ditadores, contra os corruptos. Apesar de já não achar que o método para se chegar lá era aquele que eu julgava que era quando eu tinha 20 anos, mas que eu sou uma mulher de esquerda, nunca posso vir a ser outra coisa."
Clandestinos é uma série coordenada por Inês Rocha para acompanhar neste mês de Abril. Cada episódio traz um jornalista e uma história diferente.
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