Tomás João faz arte em favos de mel — que expõe em King’s Cross

O artista português Tomás João (mais conhecido por Nature the Artist) vai apresentar um novo trabalho em Londres, esta quarta-feira. Desta vez, as colmeias são o material escolhido para a exposição.

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A exposição é inaugurada no dia 10 de Abril, em King's Cross Polvex
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Tomás João reproduziu várias pinturas famosas em favos de mel Polvex
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O artista pretende promover o debate sobre a importância dos insectos polinizadores Polvex
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Nos seus trabalhos, Tomás João une arte, ciência e biologia Polvex
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Já foi Forest Dump, agora é Nature the Artist — ou Tomás João, nome oficial. Tal como os pseudónimos artísticos já faziam prever, o artista de 30 anos, natural de Oeiras, coloca a natureza no centro das suas criações, seja pelos temas que escolhe ou pelos materiais. Desta vez, para a exposição que inaugura esta quarta-feira, 10 de Abril, em King’s Cross, Londres, o material escolhido foram favos de mel.

The Colony, como baptizou o seu mais recente projecto, inspira-se em obras conceituadas — como Mona Lisa de Leonardo Da Vinci ou Rapariga com o brinco de pérola de Vermeer — que reproduz num suporte novo: os favos de mel. Para as ver, é preciso apontar-lhes uma lanterna. As colmeias que utiliza para este trabalho são de criação própria e as peças foram produzidas no espaço de co-working CO-OP Artists, em Cascais​. O objectivo, explica o artista ao P3, é discutir as “questões de sustentabilidade que envolvem as abelhas e outros insectos polinizadores”.

​“Algumas não conseguem perceber se fui eu que fiz, se foi a natureza que fez… É algo engraçado”, admite. “Mesmo que os materiais sejam mais difíceis de trabalhar, não estou 100% preocupado com o resultado final destes trabalhos como estaria se estivesse a fazer algo mais técnico como a pintura. Na pintura existem muitas referências e os erros são mais facilmente identificados”, explica.

Já com algumas exposições no currículo, Tomás conta que a decisão de expor em Londres foi “um salto de fé” necessário para quem quer vingar num mercado mais vasto. “O risco em Londres é maior mas as oportunidades também são maiores”, diz.

Começou nas Artes Plásticas, curso que tirou no Politécnico de Leiria, nas Caldas da Rainha. Mas a vontade de fazer arte já vinha de antes: O primeiro contacto que eu tive com a arte, por mais irónico que pareça, foi nas mesas da escola. Aquilo era quase uma mensagem que nós deixávamos uns para os outros. Eu lembro-me que iam nascendo desenhos e lembro-me especialmente de uma coisa muito bonita da altura que era que não havia pressão nenhuma em relação àquela imagem ficar para sempre, acho que isso era algo mesmo bonito.”

Os rabiscos nas secretárias evoluíram para graffiti, que ainda fez “durante uns anos”. A esse lado artístico foi associando outros interesses, como a ciência e a biologia — e assim nasceu a sua identidade artística. Pinta, constrói e cria com elementos naturais para proporcionar uma “experiência imersiva e que confronte”.

“A minha maior inspiração é, sem dúvida, a natureza. Não há melhor artista que ela”, confessa. É em passeios pela floresta que Tomás vai buscar as suas ideias. “O que eu tenho é de descobrir alguma textura ou alguma referência que exista na natureza e que eu veja como uma peça de arte. No fundo, só tenho que a agarrar e trazê-la para o mundo expositivo, para que as outras pessoas também a vejam dessa maneira e considerem uma peça de arte”, revela.

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Nature the Artist
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Os fósseis do futuro

Para Tomás, o primeiro grande trabalho profissional foi em 2018, com uma série de fotografia onde imitava vários caçadores com os seus troféus de caça substituídos por lixo, numa espécie de realidade paralela e distópica.

Não esconde que se fez artista enquanto trabalhava com outros artistas e que uma das maiores oportunidades que teve foi a convite de Bordalo II: “Foi a primeira vez que eu consegui criar uma experiência imersiva e orientada para o visitante. Acho que foi a que me deu mais prazer e também foi a mais difícil até hoje”, afirma.

Chapter One esteve exposta em Lisboa, em 2022. Para além de pinturas que representavam a natureza com marcas de influência humana, um outro elemento da exposição roubava as atenções de quem visitava: uma colecção de fósseis contemporâneos. Garrafas de plástico, teclados de computador, telemóveis e latas provocavam reacções de surpresa, de riso e de choque. Era uma crítica ao impacto negativo que a humanidade tem na natureza. “Acho importante nós pararmos um bocado e pensarmos no impacto que estamos a ter. Foi como se fosse ao futuro buscar um objecto que nos confrontasse.”

Depois de muito tempo fechado em estúdio, num processo artístico que pode ir da “frustração ao maior dos prazeres”, o dia de inauguração é “o alívio de um artista”, pois consegue ver se o trabalho teve o impacto esperado. “Se uma pessoa for ver uma exposição minha e sair de lá a rir ou até a chorar, tenho o dia feito. Porque isso significa que eu consegui comunicar com aquela pessoa através das coisas que eu fiz e a comunicação foi tão forte que proporcionou uma emoção que ela nem conseguiu esconder”.

E no futuro, o que lhe falta fazer? “Tudo”, admitiu, entre risos. Contudo, confidencia ao P3 que espera crescer internacionalmente e encontrar as ferramentas necessárias para evoluir e expor os seus trabalhos — sempre com um toque de crítica social.

Texto editado por Inês Chaíça

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