Vacina contra o cancro do fígado reduz tumores em pequeno ensaio clínico

Resultados sugerem que as vacinas baseadas em mutações presentes apenas no tumor do doente podem aumentar a capacidade do sistema imunitário para reconhecer e atacar cancros difíceis de tratar.

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Cientistas usaram amostras de tumores de pacientes para criar vacinas baseadas em neoantigénios, mutações presentes apenas no tumor de um paciente individual Stefan Wermuth/Reuters
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Quase um terço dos pacientes com cancro do fígado avançado que receberam uma vacina personalizada desenvolvida pela empresa de biotecnologia Geneos Therapeutics, juntamente com um medicamento imunoterápico num pequeno ensaio clínico inicial, viram os seus tumores encolherem, anunciaram agora os investigadores dos EUA.

O resultado corresponde a aproximadamente o dobro da resposta tipicamente observada apenas com a imunoterapia, de acordo com os cientistas.

Os resultados do estudo preliminar, apresentado na Associação Americana para a Investigação do Cancro, em San Diego, e publicado na revista Nature Medicine, sugerem que as vacinas baseadas em mutações presentes apenas no tumor do doente podem aumentar a capacidade do sistema imunitário para reconhecer e atacar cancros difíceis de tratar.

Os resultados, que terão de ser confirmados num ensaio clínico maior, aproximam a indústria de vacinas eficazes contra o cancro, depois de muitos fracassos no passado, e podem alargar os tipos de cancro que essas terapias podem tratar.

As empresas farmacêuticas Moderna e Merck, assim como outras empresas, tinham já obtido resultados promissores combinando vacinas personalizadas com imunoterapia para prevenir o reaparecimento do cancro da pele em doentes internados após cirurgia.

Educar o sistema imunitário

Para o estudo, os investigadores utilizaram amostras de tumores de pacientes para criar vacinas baseadas em neoantigénios – novas mutações presentes apenas no tumor de um paciente individual. O objectivo era treinar o sistema imunitário para atacar e matar apenas estas proteínas únicas, deixando o tecido saudável ileso.

Ao contrário do cancro da pele, que tem muitas mutações que o corpo reconhece, o cancro do fígado contém menos mutações, o que torna as imunoterapias menos eficazes.

“Esta vacina educa essencialmente o sistema imunitário para reconhecer antigénios que tem ignorado”, disse o líder do estudo, Mark Yarchoan, Centro do Cancro Sidney Kimmel, da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

O estudo envolveu 36 doentes com carcinoma hepatocelular, a forma mais comum de cancro do fígado. Os doentes receberam vacinas feitas à medida, para além da imunoterapia Keytruda ​(nome comercial do pembrolizumab) da empresa farmacêutica Merck, que é geralmente o tratamento utilizado.

Quase um terço dos doentes tratados com a terapêutica combinada (30,1%) registou uma redução do tumor, tendo três destes doentes obtido uma resposta completa, ou seja, a ausência de sinais detectáveis do tumor após um acompanhamento, em média, de 21,5 meses. “Isto sugere que a vacina teve efectivamente eficácia clínica”, afirmou Mark Yarchoan.

O efeito adverso mais comum foi uma ligeira reacção no local da injecção. Não se registaram efeitos secundários graves.

Ao contrário de muitas vacinas candidatas baseadas na tecnologia do ARN-mensageiro (ARNm), o tratamento da Geneos Therapeutics é uma vacina de ADN na qual o código genético das proteínas mutadas é injectado nas células através de um pequeno impulso eléctrico. Cada vacina pode ter como alvo até 40 genes mutados.

Mark Yarchoan disse que estão a ser planeados ensaios maiores, mas recusou-se a fornecer pormenores.

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