Neemias Queta assina contrato “standard” com os Boston Celtics e pode jogar nos play-offs

O português de 24 anos assinou um contrato que terá validade para pelo menos mais uma época e permite a sua utilização nos play-offs, nuns Boston Celtics que partem no lote dos favoritos.

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Neemias Queta participou em 26 jogos dos Boston Celtics até ao momento Daniel Rocha
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O basquetebolista Neemias Queta assinou esta terça-feira um contrato “standard” com os Boston Celtics, anunciou a equipa em comunicado. Não foram revelados detalhes sobre o vínculo assinado, mas meios de comunicação ligados a Boston adiantam que terá duração superior a um ano.

O contrato standard permite a utilização do internacional português nos play-offs da liga norte-americana de basquetebol (NBA), que arrancam a 20 de Abril.

Neemias, o primeiro português (e até agora único) a actuar na NBA, assinou no início da temporada um vínculo “two-way” (de duas vias, numa tradução livre para português) com os Boston Celtics, uma modalidade de contrato que permite que os jogadores dividam o seu tempo entre a equipa da NBA e a respectiva filial da G-League, uma espécie de liga de desenvolvimento – neste caso, os Maine Celtics. Antes desta temporada, o poste já tinha passado duas temporadas com um contrato semelhante nos Sacramento Kings.

No entanto, estes contratos a duas vias têm limitações de utilização na equipa principal: jogadores na situação de Neemias Queta só podem ser convocados para 50 dos 82 jogos da fase regular e não podem jogar nos play-offs da NBA. O internacional luso foi várias vezes chamado a jogo em Boston e estava perto do limite de jogos: fora até agora convocado para 47 encontros, sendo utilizado em 26 destes.

Prestações sólidas durante a época deram garantias

A longa temporada regular de 82 jogos tem sempre janelas de oportunidade a aproveitar, e Neemias Queta tratou de fazer isso mesmo. Em Dezembro, com a rotação interior dos Boston Celtics devastada por lesões, o poste de 24 anos teve a oportunidade de jogar minutos significativos, durante os quais foi produtivo. Nos jogos em que participou, conseguiu médias de 4,6 pontos e 4,1 ressaltos em 11,4 minutos.

As boas exibições serviram para conquistar a admiração do público exigente do TD Garden, casa histórica dos Celtics, e valeram elogios, tanto do treinador, Joe Mazzulla, como da imprensa norte-americana regional e nacional.

Apesar disso, os Celtics, líderes destacados da NBA na fase regular, fizeram mexidas em cima trade deadline (a data limite para realizar trocas) para reforçar a rotação interior, com a aquisição do poste Xavier Tillman, até então dos Memphis Grizzlies. A movimentação reforçou a profundidade do plantel e tirou espaço a "Quetão", que começou a passar mais tempo em Maine, na G-League.

Com o fim da fase regular a chegar a passos largos, pairava sobre Boston a dúvida sobre o que iria fazer com a 15ª e última vaga disponível no plantel (os contratos two-way não entram para estas contas). Após a trade deadline, os caminhos possíveis de contratação resumem-se a jogadores livres ou à conversão de two-way em contratos normais de NBA.

Não era uma questão que ocupasse muito espaço nos pensamentos do poste português. Em conversa com o PÚBLICO em Fevereiro, apenas disse que o contrato assinado com os Celtics tinha como objectivo dar continuidade ao de desenvolvimento iniciado em Sacramento.

Via difícil para ter minutos

Sem contratempos, os Boston Celtics vão entrar nos play-offs da NBA na condição de favoritos – a par dos Denver Nuggets, campeões em título. A equipa tem passeado pela fase regular, com vários atropelos sustentados num autêntico canivete suíço ofensivo e numa defesa sufocante.

O plantel é um dos mais completos da liga e, com excepção de alguns períodos em Dezembro, Janeiro e Fevereiro, tem conseguido manter-se saudável da normalidade possível numa liga com um calendário preenchido como a NBA. O poste letão Kristaps Porzingis, all-star com um historial extenso de lesões, é o caso mais sensível, mas Boston tem gerido a sua utilização de forma inteligente, com poupanças à mínima queixa tendo em vista a sua disponibilidade na fase a eliminar da NBA, quando será peça-chave para uma campanha bem-sucedida.

Isto significa que não há via fácil para Neemias Queta jogar com regularidade nos Boston Celtics. É apenas o quinto jogador numa rotação interior que nos play-offs não deverá ver mais de três jogadores da sua posição a jogar. Assim, o jogador interior português é visto como uma garantia para contribuições sólidas, na eventualidade de lesões. E é expectável que tenha minutos nos quatro jogos que restam da época regular, numa altura em que os Boston Celtics já têm o primeiro lugar garantido.

O português poderá também ainda ser chamado à G-League, onde foi uma peça essencial na caminhada dos Maine Celtics até à final da liga – registou este domingo 16 pontos e um máximo de carreira de 19 ressaltos no jogo que valeu à equipa o título da Conferência Este.

E o futuro?

Em conversa com o PÚBLICO em Fevereiro, Neemias Queta encarava as boas exibições na NBA com naturalidade. Dizendo sentir-se "mais confortável" dentro de campo, reconheceu ter conseguido aproveitar bem a sua oportunidade em Dezembro, o mês em que foi mais utilizado devido às lesões que atingiram o plantel dos Celtics. O poste voltou aí a mostrar as suas valências, entre as quais saltaram à vista o jogo no bloqueio directo e a luta por ressaltos nas tabelas – para além da energia que coloca em cada posse de bola em que intervém.

A intensidade do português em todos os momentos do jogo foi, aliás, a primeira característica que saltou à vista de Nekias Duncan, repórter norte-americano e co-apresentador do podcast The Dunker Spot, com o ex-adjunto da NBA Steve Jones Jr.

“Basta olhar para uma simples jogada de bloqueio directo. O Neemias sprinta para fazer o bloqueio, em vez de correr de forma preguiçosa. Faz por executar tudo o que é pedido com energia e intensidade”, descreveu, em declarações ao PÚBLICO. Fã assumido de jogadores capazes de bons bloqueios, que considera uma arte subvalorizada na NBA, Duncan destacou essa mesma vertente do jogo de Neemias.

“Trabalha muito sem bola. Não vai recebê-la sempre, mas vai sempre ser muito físico com os adversários. Entende os ângulos de bloqueio, os conceitos para deixar os colegas com espaço para lançar – e corta bem para o cesto”, explicou.

Nekias Duncan reconhece ainda em Neemias Queta o potencial para ser um defensor muito competente na liga, para lá dos rasgos que se vêem na protecção do cesto.

“Joga com muita energia, mas por vezes a sua entrega leva-o a cobrir mais espaço do que necessitaria, para lá do que o esquema defensivo pede. Precisa de ser um pouco mais consistente, mas é algo que surgirá à medida que tiver mais minutos na liga e fique mais confortável”, refere.

Duncan apontou essa evolução na defesa, um lado do campo em que Neemias foi dominador no seu percurso universitário em Utah State, como crucial para que o poste português tenha uma carreira duradoura na NBA – em Boston ou noutra equipa. O poste tem, no entender do jornalista norte-americano, "todas as ferramentas" para se aguentar na NBA, no mínimo com um papel consistente na fase regular – nos play-offs, o jogo de ajustes tácticos e de busca por vulnerabilidades ao longo de uma série podem limitar o tempo de utilização, mas mesmo isso pode ser trabalhado.

"Para passar de um papel de um interior enérgico para um jogador de rotação regular, até titular, tem de dar garantias com mais disciplina e defesa consistente”, considera Nekias Duncan.

Independentemente do que o futuro reservar, o contrato regular de NBA é mais uma etapa no percurso de afirmação de Neemias Queta na NBA e na consolidação do jogador natural do Barreiro como figura de proa do basquetebol português. Começou em 2021, com a inédita escolha no draft da NBA, o pé na porta da maior liga do mundo que aguentou com três contratos two-way. O novo vínculo dá garantias para pelo menos mais uma temporada.

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