Woody Allen volta a dizer que já não há nada de romântico em fazer filmes
Realizador de 88 anos diz-se numa encruzilhada – as ideias para os projectos existem, mas conseguir reunir financiamento e garantir distribuição é cada vez mais difícil. Vai reformar-se? Dificilmente.
Woody Allen está a equacionar reformar-se… Outra vez. Será verdade? Numa entrevista ao semanário digital Air Mail o realizador de 88 anos admitiu estar “em cima do muro” no que toca a continuar a fazer filmes: tanto pode juntar mais um título à sua longa filmografia, como deixar tudo para trás.
"Estou indeciso [quanto a continuar a trabalhar]", disse Allen ao jornalista que quis saber se Golpe de Sorte (2023) será o seu último filme. "Não quero sair para angariar dinheiro. Acho que isso é uma dor de cabeça, mas se alguém aparecer ou telefonar e disser que quer apoiar o filme, então eu consideraria seriamente a hipótese. Provavelmente não teria força de vontade para dizer não, porque tenho muitas ideias."
Para o aparente desalento de Allen contribuirá, certamente, as dificuldades que rodearam o lançamento de Golpe de Sorte nos Estados Unidos, mesmo depois de ter sido bem recebido no Festival de Veneza no ano passado.
Com o #MeToo a fazer ressurgir as alegações de ter agredido sexualmente a sua filha adoptiva Dylan Farrow em 1992 – acusações que Allen sempre negou e que lhe valeram uma investigação que acabaria por ilibá-lo –, o realizador foi completamente afastado de Hollywood. A exibição dos seus filmes tornou-se, por isso, um assunto complicado e o seu poder de atracção para investidores e público diminuiu.
Depois de meses de espera, Golpe de Sorte chegou aos cinemas americanos a 5 de Abril.
Na mesma entrevista, o realizador de Annie Hall lamentou ainda o estado em que está hoje o circuito da distribuição dos filmes nos Estados Unidos. “Não me interessa se o filme é distribuído aqui ou não”, disse o cineasta, acrescentando: “Agora a distribuição é duas semanas nas salas de cinema. Todo o negócio mudou e não de uma forma positiva. Todo o romance do cinema desapareceu".
Annie Hall (1977), lembrou ainda, esteve em exibição mais de um ano.
Não é a primeira vez que Woody Allen se mostra desagradado com a distribuição ou as condições com que actualmente se trabalha na indústria cinematográfica. No entanto, apesar das dificuldades, a sua produtora, Letty Aronson, garantiu recentemente que o realizador está já a trabalhar num novo guião. Muito provavelmente, Allen não vai desistir depois de Golpe de Sorte, a sua 50.ª longa-metragem.