EUA, Reino Unido e Austrália querem expandir o AUKUS e piscam o olho ao Japão

Os três países vão iniciar negociações para atrair aliados a juntarem-se ao “segundo pilar” da parceria de segurança para o Indo-Pacífico. Biden recebe líderes do Japão e das Filipinas em Washington.

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Cerimónia em San Diego (EUA), no ano passado, onde foi anunciado o plano para fornecer submarinos nucleares à Austrália Reuters/Leah Millis
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Os Estados Unidos, a Austrália e o Reino Unido querem a abrir a novos aliados as portas da parceria de segurança que lançaram em 2021 para a região alargada do Indo-Pacífico. O Financial Times noticia este domingo que os ministros da Defesa dos três países vão iniciar na segunda-feira negociações para esse efeito, com a esperança de conseguirem convencer o Japão a tornar-se o primeiro Estado não-fundador a aderir ao AUKUS.

Segundo o diário económico britânico, que cita fontes com conhecimento do processo, o plano passa, no entanto, por expandir apenas o chamado “segundo pilar” do AUKUS, relativo à partilha de tecnologia militar avançada, como a computação quântica, o armamento hipersónico ou a inteligência artificial, entre as diversas Forças Armadas.

Ou seja, pelo menos por enquanto, os três aliados não estão a ponderar convidar novos membros para o “primeiro pilar”, que é, de longe, o mais importante, e que implica um plano ambicioso para fornecer à Marinha australiana uma frota de submarinos movidos a energia nuclear a partir de 2030, através do maior investimento militar da História da Austrália – 368 mil milhões de dólares australianos (cerca de 223 mil milhões de euros) até 2055.

Lançado há três anos por Joe Biden (Presidente dos EUA), Scott Morrison (ex-primeiro-ministro da Austrália) e Boris Johnson (antigo primeiro-ministro do Reino Unido), o AUKUS é visto como uma iniciativa militar dos EUA e dos seus aliados para conterem a República Popular da China na sua vizinhança alargada, no âmbito da competição geopolítica entre Washington e Pequim.

Há cerca de um ano, o Governo da Nova Zelândia já tinha demonstrado abertura para avaliar a possibilidade de aderir ao “segundo pilar” do AUKUS.

A notícia publicada pelo FT surge no dia em que as Marinhas dos EUA, da Austrália, do Japão e das Filipinas iniciam exercícios militares “anti-submarino” no mar do Sul da China, uma das zonas mais disputadas da região, onde o Governo da China e de vários países do Sudeste Asiático têm reivindicações territoriais.

Segundo as fontes citadas pelo jornal britânico, as novidades que Lloyd Austin (EUA), Grant Shapps (Reino Unido) e Richard Marles (Austrália), responsáveis pelas respectivas pastas da Defesa, vão anunciar na segunda-feira, assim como a possibilidade de adesão do Japão ao “segundo pilar” do AUKUS, constam na agenda do encontro entre Biden e Fumio Kishida, primeiro-ministro japonês, agendado para quarta-feira, na Casa Branca.

Nessa reunião já é expectável que seja alcançado um acordo para a ampliação da cooperação securitária entre EUA e Japão, para o nível mais elevado desde a assinatura do Tratado de Cooperação Mútua e Segurança, em 1960.

No dia seguinte, Ferdinand Marcos Jr., Presidente das Filipinas, junta-se a Biden e a Kishida para uma cimeira a três na capital dos EUA, onde discutirão, sobretudo, temas relacionados com o que os três Governos chamam “defesa liberdade de navegação” no mar do Sul da China.

Num artigo de opinião, publicado na passada quarta-feira pelo Wall Street Journal, intitulado Uma Nova Era nas Relações EUA-Japão, e no qual também defendeu a adesão japonesa ao “segundo pilar” do AUKUS, Rahm Emanuel, embaixador norte-americano em Tóquio, salientou que o Japão “está a posicionar-se no centro da estratégia de alianças regionais de Washington” e a “transformar-se num parceiro de pleno direito” dessa “estratégia para o Indo-Pacífico”.

“As areias geopolíticas moveram-se drasticamente em poucos anos. Até há pouco tempo, os cépticos previam que a América se iria retirar do Indo-Pacífico, deixando um vazio para a China preencher. Aconteceu o contrário”, congratulou-se o diplomata. “Embora seja verdade que a nossa política económica precisa de acompanhar as nossas iniciativas diplomáticas e de Defesa, Biden reforçou a reivindicação da América como potência permanente do Pacífico.”

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