Sindicato Independente dos Médicos espera que Governo aumente salários até 2026

Nuno Rodrigues, que substituiu Roque da Cunha na liderança do SIM, apontou as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde como um dos “grande problemas” do SNS.

Foto
Nuno Rodrigues foi escolhido para substituir Roque da Cunha na liderança do Sindicato Independente dos Médicos no dia 23 de Março LUSA/MANUEL DE ALMEIDA
Ouça este artigo
00:00
05:17

O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Nuno Rodrigues, espera que o novo Governo reponha até 2026 a valorização salarial de 15% para os médicos, completando o acordo intercalar alcançado com o anterior executivo.

"Os médicos desde 2015 ainda não atingiram a paridade do poder de compra e, portanto, é necessário ainda uma valorização salarial", defendeu Nuno Rodrigues à agência Lusa, na primeira entrevista desde que foi eleito para substituir Roque da Cunha, no passado dia 23 de Março, recordando que o sindicato tinha combinado com o anterior Governo socialista que esse aumento seria feito numa legislatura, que terminaria em 2026.

Antes da crise política que levou à queda do Governo, a proposta conjunta do SIM e da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) foi de, no decurso da legislatura (2022 a 2026) obter um aumento de 30% dos salários dos médicos, a redução para as 35 horas de trabalho, e a redução do período semanal de urgência de 18 para as 12 horas.

A necessidade de faseamento destas medidas já tinha sido aceite entre o Governo, a Fnam e o SIM, que considerou o acordo intercalar alcançado como a primeira etapa desse faseamento. Questionado agora sobre se o SIM vai voltar à mesa negocial juntamente com a Fnam, Nuno Rodrigues afirmou "a mesa foi sempre conjunta", as estratégias e as propostas é que "foram diferentes".

"Independentemente disso, o Sindicato Independente dos Médicos está sempre disponível para negociar. Não nos vamos é tornar num sindicato de protesto pelo protesto", salientou.

Questionado se as negociações com os sindicatos não forem retomadas rapidamente pode haver contestação dos profissionais de saúde, Nuno Rodrigues respondeu que "os médicos são pessoas ponderadas e moderadas", não podendo, porém, "ficar sempre à espera de um amanhã que nunca vem". Logo, "os médicos estão disponíveis para negociar com tranquilidade, com perspectiva de futuro", sendo que o que "o que os médicos querem menos é fazer greves".

Confrontado com o surgimento de movimentos inorgânicos, como o "Médicos em Luta", e o risco de este retirar força aos sindicatos, o líder do SIM começou por lembrar que os 18 meses de negociações, "muitas vezes infrutíferas", desencadearam "reacções exacerbadas perante a inoperância". E concluiu: "Da nossa parte achamos que foi apenas um movimento realmente de protestos e demonstração pública de insatisfação."

Ressalvando que "toda a gente tem o direito a protestar e toda a gente tem o direito a reivindicar", Nuno Rodrigues defendeu que neste caso são os sindicatos que têm o poder de negociação e, por isso, representam os médicos junto do Ministério da Saúde.

O SNS tem "um problema de gestão"

Para o novo secretário-geral do SIM, "há um problema de gestão" no Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente porque o aumento do orçamento nos últimos nove anos não se reflectiu nos salários dos profissionais. Segundo Nuno Rodrigues, o orçamento do SNS aumentou 72% entre 2015 e 2024, passando de 7874 milhões de euros para 13.506 milhões de euros. No mesmo período, o salário bruto de um médico no primeiro grau da carreira subiu 19%, aumentando de 2746 euros para 3281 euros.

"Há aqui um problema de gestão e tem de se perguntar para onde foi o dinheiro. Para os médicos não foi claramente. E, portanto, há aqui um problema de gestão que tem de ser resolvido", disse o especialista em Saúde Pública, defendendo, por outro lado, que "a forma mais competitiva" do Estado conseguir não ter um aumento da despesa pública em saúde é a contratação colectiva, neste caso, com os médicos.

Questionado se concorda com o recurso aos sectores privado e social para aliviar a sobrecarga no SNS, afirmou que o sindicato não vê essa questão como relevante "no sentido de que o mais importante é que as pessoas realmente tenham acesso à saúde em Portugal".

"Se o SNS for competitivo e o sector social e privado forem supletivos nas falhas que possa haver, isso é importante, mas tem de haver um reforço na eficiência do Serviço Nacional de Saúde e na sua competitividade, porque é disso que se trata", defendeu Nuno Rodrigues que iniciou a actividade sindical em 2015 e fazia parte do secretariado nacional do SIM desde 2018.

Sobre o novo Executivo, Nuno Rodrigues disse esperar que, "apesar de ser minoritário, seja um Governo de acção e de medidas concretas" e que "mostre serviço a favor dos portugueses e neste caso da saúde dos portugueses que tão maltratada tem sido".

O problema das desigualdades de acesso

O médico apontou as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde como um dos "grande problemas" que tem de ser combatido. "O SNS é muito grande e não há um SNS, há vários SNS. Há um SNS para quem está em Lisboa e Vale do Tejo, há um SNS para quem está em Bragança e há um SNS para quem está no Porto. E este é um dos grandes problemas que eu espero ver endereçado por um Governo nacional", defendeu.

Para Nuno Rodrigues, "não é a fechar as urgências rotativamente ou a alternar o fecho de urgências e limitar o acesso" que se diminuem as desigualdades. "Isso é feito dando condições à fixação de profissionais" nas zonas "mais críticas", através da melhoria das condições de trabalho, dando mais autonomia e flexibilidade aos médicos.

Sobre o "Plano de emergência para a saúde", previsto no programa eleitoral do actual Governo, para realizar até 2025 e que visa atribuir um médico de família a todos os portugueses e resolver o problema das listas de espera, o sindicalista disse ser difícil que seja concretizado "num prazo tão curto".