Possível mural de Miguel Ângelo, uma obra de juventude, vai ser posto à venda

A família Sernesi quer vender mural com desenho de nu masculino que estava na cozinha da casa onde o mestre cresceu, em Florença. Especialistas dividem-se quanto à atribuição da obra.

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O fragmento do mural com um homem nu que pode representar um tritão ou um sátiro Imagem do catálogo da exposição <i>Michelangelo: Divine Draftsman and Designer</i> no MET
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Um desenho de um nu masculino, que talvez seja de Miguel Ângelo, e que estava gravado na parede da cozinha da villa onde o mestre do Renascimento italiano viveu, vai ser colocado à venda pela família Sernesi, antiga proprietária desta villa em Settignano,​ Florença. A notícia é dada pelo jornal The New York Times, numa reportagem feita pela correspondente em Itália, Elisabetta Povoledo, que refere que o debate académico em torno da atribuição desta obra a Miguel Ângelo, que até aqui tem sido discreto, provavelmente vai ser reaberto entre os especialistas na obra do autor de Pietà e de David.

O fragmento do mural – cujo desenho mostra um homem nu a três quartos, que pode representar um tritão (deus marinho) ou um sátiro (semideus, com pés e pernas de bode) –, está gravado a carvão ou giz preto sobre gesso. A obra foi retirada em 1979 da parede da villa para ser restaurada no Opificio delle Pietre Dure, em Florença. Mais tarde, regressou a esta villa e foi colocada pela família Sernesi na sala de jantar. Até que, por questões de segurança, foi guardada num armazém apropriado para obras de arte, onde se tem mantido.

Quando a peça intitulada Mural Fragment of a Male Nude in Three-Quarter Length (Triton or Satyr) viajou para os EUA em 2017 e esteve exposta na exposição Michelangelo: Divine Draftsman and Designer no Metropolitan Museum of Art (Met), em Nova Iorque, estava segurada em cerca de 24 milhões de dólares. ​No entanto, nem sempre os preços dos seguros reflectem os valores de venda acrescenta o The New York Times.

Carmen C. Bambach, que foi curadora da exposição no Met, escreveu em 2013 num ensaio científico que este era "um trabalho negligenciado de Miguel Ângelo". Além dos Estados Unidos, a obra já esteve exposta no Japão, na China e no Canadá. Ao jornal norte-americano, Ilaria Sernesi, uma das proprietárias – no ano passado, a família Sernesi vendeu a propriedade –​, disse que para a sua família não está em causa o dinheiro, mas o considerarem que esta obra “merece ser vista, apreciada e amada.” Ainda estão a decidir de que maneira será colocada à venda, se através de uma casa leiloeira, de um intermediário ou de um antiquário.

A peça foi classificada há anos pelo Ministério da Cultura italiano como tendo importância nacional, o que a impede de sair do país – a não ser por empréstimo – e, no caso de venda, o Estado italiano tem direito de preferência na compra. Caso isso acontecesse, segundo apurou o The New York Times, a Galeria da Academia de Belas Artes de Florença, onde estão algumas das famosas esculturas de Miguel Ângelo, poderia ser o destino final. Ao diário norte-americano, Cecilie Hollberg, a directora da Galeria da Academia, defende que é necessário investigar e estudar melhor esta obra.

Além da indicação do biógrafo Giorgio Vasari, contemporâneo de Miguel Ângelo, de que o artista em jovem desenhava em paredes, o especialista em Renascimento italiano Giorgio Bonsanti, que esteve à frente do restauro da peça no final dos anos 70, é um dos que consideram que a obra foi feita pelo mestre do Renascimento quando tinha 20 anos. Mas há também historiadores de arte que não concordam com esta atribuição. É o caso do especialista Paul Joannides, professor emérito de História da Arte na Universidade de Cambridge, que não acredita que mesmo muito jovem Miguel Ângelo pudesse ter “desenhado tão mal”, refere ainda o The New York Times.

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