Mêda+, o festival de Verão que (re)põe a Guarda no radar
Num município com dois mil habitantes, regressa agora o festival gratuito que esteve seis anos parado. Tem direito a campismo, três palcos e música indie e tradicional portuguesa, de 25 a 27 de Julho.
Foi no Verão de 2010 que um grupo de jovens da cidade de Mêda, na Guarda, com cerca de dois mil habitantes, se juntou para criar a associação juvenil que deu origem ao Mêda+. O objectivo foi sempre criar um festival de música gratuito que "envolvesse a comunidade" e colocasse Mêda no mapa dos festivaleiros do país. E assim fizeram. Por lá passaram nomes como Capitão Fausto, Samuel Úria, Linda Martini ou Diabo na Cruz, numa altura em que "tocavam por valores baixíssimos", mas "a qualidade já estava lá, só não tinham sido ainda descobertos". Quem conta é o director artístico da nova edição, André Pereira. Por cada um dos três dias, "tínhamos cerca de mil a 1500 pessoas, com maior afluência aos sábados".
Mas, em 2019, o Mêda+ deixou de apresentar cartaz – "por motivos de divergências internas" e "questões financeiras" o festival deixou de se realizar. "O nosso maior patrocinador era o Município, e pode parecer um valor ridículo, mas eram 8 mil euros que faltavam", e faziam diferença: "por 8 mil euros, foi o fim do Mêda+". Agora, seis anos depois da última edição, "a vontade política mudou", e há mais apoio financeiro, conta André Pereira. A Mêda foi ressuscitada.
São três dias de festival, de 25 a 27 de Julho, com um alinhamento que vai do indie rock ao pop alternativo, "sem cabeças de cartaz", que conta com nomes como Ganso, Bateu Matou, Filipe Karlsson ou José Pinhal Post Mortem Experience. Este ano há três palcos e um deles vai ser dedicado à música tradicional portuguesa, como a Orquestra Sinfónica de Mêda ou o rancho folclórico do município. O objectivo é "envolver toda a comunidade local", já que "todos os jovens locais aderem", mas no pequeno concelho "a juventude é muito pouca" (cerca de quatro centenas, em 2021), e a música tradicional quer captar a atenção dos mais velhos, unindo gerações. A população do Porto e Lisboa que visita o festival é "residual", mas vem "muita gente dos distritos limítrofes, como Vila Real ou Bragança", conta André.
A escolha dos artistas é sempre condicionada por "condições financeiras desfavoráveis", mas a "caça aos novos talentos faz-se com gosto, e não é por um artista ter um cachê mais baixo que não tem qualidade", diz o director artístico, que chamou também para a Guarda alguns artistas emergentes, como o experimental Vasco Completo ou os neopsicadélicos portuenses Summer of Hate.
A organização também é feita de voluntários, os cerca de 30 ou 40 membros da associação, "mais do que quando começámos, em 2010". Gostavam de fazer mais coisas para além do festival, mas este acaba por "drenar muito a associação, quer a nível psicológico, quer financeiro", explica o medense. Ficam-se então pelo evento, que conta também com espaço gratuito para pernoitar, no parque de campismo municipal. Ao lado, existem as piscinas, onde "as pessoas se podem refugiar do calor que se faz sentir em Mêda no Verão".
A fisionomia do espaço também está diferente: "O palco principal costumava ficar a cerca de um quilómetro do centro, mas agora o festival vai mesmo ocupar o centro [da cidade]". Há um palco no parque e outro no mercado municipal, que tem um simbolismo especial: "Tudo o que há na Mêda é dali, é muito do mercado, da terra", conta o director.
Este sábado haverá já "um pequeno evento para servir de teste e começar a olear a máquina", onde se apresentará o cartaz. Mas é em Julho que a Mêda espera voltar a ver os festivaleiros da década anterior. Chamaram-lhe "edição X", é a décima, e o director artístico espera "que esteja ao nível das outras".
Texto editado por Maria Paula Barreiros