Biden ameaça Netanyahu com mudança na relação política com Israel
Biden e Netanyahu falaram ao telefone numa conversa descrita pela imprensa como tendo sido tensa.
Joe Biden e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, voltaram a falar ao telefone nesta quinta-feira, numa conversa, descrita pelo jornal The New York Times (NYT), como "tensa e longa", e na qual o Presidente norte-americano sublinhou que os ataques contra os trabalhadores humanitários e a situação humanitária em Gaza são situações "inaceitáveis". De acordo com um resumo da conversa, disponibilizado pela Casa Branca, Biden disse que a política dos EUA em relação a Gaza será determinada pela avaliação da acção imediata de Israel e que poderá mesmo mudar.
"O Presidente sublinhou que um cessar-fogo imediato é essencial para estabilizar e melhorar a situação humanitária e proteger os civis inocentes, e instou o primeiro-ministro [Benjamin Netanyahu] a dar poderes aos seus negociadores para concluírem sem demora um acordo para trazer os reféns para casa", lê-se no documento, citado pelo jornal The Guardian.
Ainda segundo o diário britânico, Biden "deixou clara a necessidade de Israel anunciar e implementar uma série de medidas específicas, concretas e mensuráveis para lidar com os danos contra civis, o sofrimento humanitário e a segurança dos trabalhadores humanitários". A conversa entre os responsáveis pelos dois países surge poucos dias depois de sete trabalhadores humanitários da World Central Kitchen (WCK) terem sido mortos na Faixa de Gaza pelo Exército israelita.
Segundo detalha o NYT, durante o telefonema, "tenso e longo", Joe Biden expressou a sua frustração com o que considera ser o desrespeito mais amplo pelo sofrimento de inocentes em Gaza, mesmo quando expressou apoio ao direito de Israel de responder ao Hamas pelo ataque terrorista de 7 de Outubro, que fez mais de 1200 mortos.
"Apoio de Washington mudará"
"O apoio generalizado de Washington a Israel mudará se este país não começar a dar ouvidos às exigências americanas em matéria de protecção dos civis em Gaza e de autorização da entrada de ajuda no enclave palestiniano", reforçou o secretário de Estado Antony Blinken, que se encontra em Bruxelas no encontro dos ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO. "Se não virmos as mudanças que precisamos de ver, haverá mudanças na nossa política", reforçou Blinken numa declaração aos jornalistas.
Numa outra reacção, desta vez do porta-voz da Casa Branca, John Kirby, a mensagem foi a mesma. "Se Israel não mudar a forma como está a levar a cabo a sua guerra em Gaza, os Estados Unidos mudarão a sua política em relação a Israel", disse Kirby.
Apesar das declarações dos vários representantes norte-americanos, o jornal The Washington Post dá esta quinta-feira conta de que a administração Biden aprovou a transferência de mais milhares de bombas para Israel no mesmo dia em que os ataques aéreos israelitas em Gaza mataram sete trabalhadores do grupo de caridade World Central Kitchen. O Departamento de Estado aprovou a transferência de mais de 1000 bombas MK82 , mais de 1000 bombas de pequeno diâmetro e fusíveis para bombas MK80, detalha o diário norte-americano.
Ainda segundo a imprensa norte-americana, e apesar do desagrado para com a acção de Israel na Faixa de Gaza, Joe Biden e Benjamin Netanyahu discutiram também a crescente tensão entre Israel e o Irão, depois de Israel ter bombardeado a embaixada iraniana em Damasco, na Síria. Segundo o The Guardian, Biden "deixou claro que os EUA apoiam firmemente Israel face a essas ameaças", afirmou.