Quantidade de água duplicou no barlavento algarvio, regantes pedem alívio

Regantes algarvios pedem alívio de restrições, mas a quantidade de água retida na bacia do barlavento em Março (20,8%) ficou longe da média nacional (74,1%).

Foto
Barragem da Bravura em Janeiro de 2022 Miguel Manso
Ouça este artigo
00:00
04:56

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A quantidade de água armazenada na bacia hidrográfica do barlavento subiu para 20,8% a 31 de Março, o dobro do verificado em Fevereiro, mas manteve-se como a que menos água retém em Portugal. De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informação dos Recursos Hídricos (SNIRH) disponíveis nesta terça-feira, em Março, houve um aumento do volume armazenado em nove bacias hidrográficas e uma descida em três.

Apesar do aumento verificado no último mês, a quantidade de água retida na bacia do barlavento ficou longe da média, que é de 74,1%. Em Fevereiro esta bacia estava a 12,5% da sua capacidade e em Janeiro tinha estado a 9,4%. Toda a região do Algarve estava no fim de Fevereiro em situação de seca fraca meteorológica.

Os armazenamentos de Março de 2024 por bacia hidrográfica apresentam-se superiores às médias de armazenamento do mesmo mês (período de referência 1990/91 a 2022/23), com excepção para as bacias do Ave (69,9%), Mira (40,3%), Ribeiras do Algarve (Barlavento 20,8%) e Arade (40,9%) — a cada bacia hidrográfica pode corresponder mais do que uma albufeira.

No último dia do mês de Março, as bacias do Tejo, Cávado e Guadiana eram as que apresentavam maior volume de água, com 95,4%, 93,8% e 91,4%, respectivamente. De acordo com o SNIRH, das 60 albufeiras monitorizadas, 38 apresentavam no fim de Março disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e quatro com disponibilidades inferiores a 40%.

Regantes algarvios pedem alívio após chuvas

Os regantes do Algarve apelam ao Governo para que alivie as restrições ao consumo de água na agricultura, impostas devido à seca que afecta a região, após o nível das albufeiras ter subido com as chuvas registadas na Páscoa. João Garcia, da Associação de Regantes e Beneficiários de Silves, Lagoa e Portimão, e Macário Correia, da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve, disseram à agência Lusa que as barragens algarvias têm mais água do que no início do ano, quando foram impostas reduções ao consumo na agricultura (25%) e no sector urbano (15%), e que a água proporcionada pelas últimas chuvas permite aliviar as restrições.

O presidente da associação de regantes de Silves, Lagoa e Portimão recordou que, nesse perímetro de rega do barlavento (Oeste) algarvio, estão a ser implementadas medidas de contingência há dois anos, sublinhando que em Novembro "se fecharam as torneiras", e que os agricultores desde então "não gastam um litro de água".

João Garcia disse que as chuvas de Janeiro, Fevereiro e dos últimos dias de Março criaram uma realidade diferente da que levou à aplicação dos cortes, frisando que "foi reposta muita água" nas albufeiras com as últimas chuvas, "tanto no barlavento como no sotavento [Este]", e os níveis estão iguais aos do mesmo período do ano anterior.

"Nesse sentido, as nossas expectativas é que agora — durante o mês de Abril, e como também foi anunciado pela APA [Agência Portuguesa do Ambiente] que no decorrer da primeira semana de Abril iria entrar em contacto com as associações no sentido de reavaliar os cortes anunciados antes de termos esta precipitação no Algarve —, possamos reunir-nos logo que possível para serem revistos os cortes e ser disponibilizada mais água" aos agricultores, defendeu.

João Garcia considerou que as chuvas registadas nas últimas semanas trazem "uma perspectiva completamente diferente" à que esteve na base dos cortes aplicados e os agricultores de Silves, Lagoa e Portimão esperam agora poder "ter mais água" e "salvaguardar a produção", que fica em causa caso os cortes se mantenham. O presidente da associação de regantes do sotavento (Leste) algarvio, Macário Correia, também defendeu que as últimas chuvas no Algarve trouxeram um "cenário completamente diferente" e abriram margem para rever as restrições, embora mantendo o foco na eficiência hídrica.

Macário Correia assinalou que as medidas aplicadas no perímetro de rega do sotavento reduziram o consumo em 27%, comparativamente com igual período do ano anterior, e observou que, com as últimas chuvas, "não vai ser preciso regar de uma forma regular nas próximas semanas", excepto para rega de adubação. "Significa, portanto, que vamos poupar água por regar menos neste período, e isso, associado ao aumento do nível das albufeiras, traça um cenário completamente diferente para os próximos tempos", sublinhou, frisando que a água armazenada nas albufeiras é igual à que havia na mesma data de 2023 e, nas próximas semanas, as ribeiras ainda vão aportar mais água às barragens.

Macário Correia lembrou que o esforço para gerir bem a água e evitar desperdícios deve manter-se, porque o "Algarve não passou da escassez à abundância", mas considerou que "as medidas que foram desenhadas em Janeiro não fazem sentido neste momento", quando há reservas com níveis semelhantes ao mesmo período de 2023. "Isto significa que [agora] se pode fazer uma rega quase normal e o Governo deverá, conjuntamente com a APA e a Direcção-Geral de Agricultura, tomar medidas nos próximos dias de forma a rever, actualizando às circunstâncias actuais, aquelas que foram as orientações traçadas em Janeiro e em Fevereiro", concluiu.