Rússia anuncia detenção de estrangeiros envolvidos no financiamento do atentado em Moscovo
FSB diz que os suspeitos detidos na República do Daguestão forneceram armas e dinheiro aos terroristas que atacaram sala de concertos nos arredores da capital russa.
As autoridades russas anunciaram a detenção de quatro pessoas na república do Daguestão por alegadas ligações aos terroristas que atacaram uma sala de concertos nos arredores de Moscovo a 22 de Março.
Segundo o Serviço Federal de Segurança (FSB), os quatro cidadãos estrangeiros, que foram detidos nas cidades de Makhachkala e Kaspisk, ajudaram “directamente” os terroristas que levaram a cabo o atentado na Crocus City Hall, ao fornecerem dinheiro e armas. Estariam também a “planear uma acção terrorista num local público”.
De acordo com os investigadores do FSB, citados pela agência russa TASS, os suspeitos já tinham identificado o alvo em Kaspisk, adquirido armas automáticas e fabricado um engenho explosivo, com o objectivo de deixar a Rússia “imediatamente” após o ataque.
O FSB divulgou um vídeo em que um dos alegados detidos confessa ter fornecido armas à célula de Moscovo, bem como a apreensão de duas espingardas de assalto e 460 munições em sua casa. Nesta alegada confissão, dá também conta dos planos que terão sido concebidos em Kaspisk, também com o objectivo de provocar um massacre "no meio de uma multidão".
Mais de 140 pessoas foram mortas no atentado na sala de concertos Crocus City Hall, cuja responsabilidade foi reivindicada em várias mensagens pelo Daesh-Khorasan, um ramo do autoproclamado Estado Islâmico, mas a Rússia tem insistido na tese de que “nacionalistas ucranianos” estavam ligados ao ataque, uma alegação negada por Kiev. As autoridades russas detiveram uma dezena de pessoas, incluindo os quatro autores directos do massacre, a última das quais esta segunda-feira.
Alerta do Irão
Tal como os EUA, o Irão terá também alertado a Rússia para a possibilidade de uma “operação terrorista” de grande envergadura no seu território antes do atentado de Moscovo, segundo três fontes conhecedoras do assunto citadas pela Reuters.
“Dias antes do ataque em Moscovo, Teerão partilhou informações com Moscovo sobre um possível grande ataque terrorista dentro da Rússia, que foram obtidas durante os interrogatórios dos detidos em ligação com atentados mortais no Irão”, disse uma das fontes à Reuters.
Em Janeiro, o Irão prendeu 35 pessoas, incluindo um comandante do Daesh-Khorasan que, segundo Teerão, estariam ligadas a dois atentados bombistas, em 3 de Janeiro, na cidade de Kerman, que mataram cerca de 100 pessoas.
O Daesh reivindicou a responsabilidade pelas explosões no Irão, as mais sangrentas desde a Revolução Islâmica de 1979. Fontes dos serviços secretos norte-americanos afirmaram que o Daesh-K foi responsável pelos ataques de 3 de Janeiro no Irão e pelos tiroteios de 22 de Março em Moscovo.
Os Estados Unidos também tinham avisado antecipadamente a Rússia de um provável ataque de militantes islamistas, mas Moscovo, profundamente desconfiado das intenções de Washington, minimizou essas informações.
Uma segunda fonte, que também pediu o anonimato devido à sensibilidade da questão, disse que as informações que Teerão forneceu a Moscovo sobre um ataque iminente careciam de pormenores específicos sobre o momento e o alvo exacto.
“Eles (os membros do Daesh-K) receberam instruções para se prepararem para uma operação importante na Rússia... Um dos terroristas (detido no Irão) disse que alguns membros do grupo já tinham viajado para a Rússia”, afirmou a segunda fonte.
Uma terceira fonte, um alto funcionário da segurança, disse: “Como o Irão tem sido vítima de ataques terroristas durante anos, as autoridades iranianas cumpriram a sua obrigação de alertar Moscovo com base nas informações obtidas dos terroristas detidos”.
Questionado sobre a notícia da Reuters, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, limitou-se a dizer: “Não sei nada sobre isso”.
No entanto, é mais difícil para a Rússia ignorar as informações de um aliado como o Irão sobre o ataque de 22 Março, que levantou questões sobre a eficácia dos serviços de segurança russos. Moscovo e Teerão, ambos sob sanções ocidentais, aprofundaram a cooperação militar e outras durante a guerra de dois anos na Ucrânia.