Hamas pede desculpa à população de Gaza e reconhece o seu “cansaço”

Numa mensagem no Telegram, o movimento reconheceu “o cansaço” da população com a guerra, insistindo nas medidas que disse ter tentado pôr em prática para atenuar dificuldades.

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Zona à volta do Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, após duas semanas de operação militar israelita no local Dawoud Abu Alkas/Reuters
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O movimento islamista Hamas pediu pela primeira vez desculpa à população de Gaza pelo sofrimento causado pela guerra com Israel, numa longa declaração publicada no domingo à noite no Telegram.

Na “mensagem de agradecimento ao povo”, o Hamas reconheceu “o cansaço” da população com a guerra, que começou após o ataque que o movimento levou a cabo a 7 de Outubro em Israel, com um cerco ao território a que não chega ajuda humanitária suficiente, a que se seguiu uma incursão terrestre de Israel.

O movimento pediu desculpas pelas dificuldades causadas, insistindo nas medidas que disse ter tentado pôr em prática para atenuar as dificuldades, por exemplo as tentativas de “controlar os preços” dos bens alimentares, que subiram em flecha dada a escassez.

O Hamas afirmou também que está a falar com toda a sociedade de Gaza, mencionando outros movimentos armados, “comités populares e famílias”, para “resolver os problemas causados pela ocupação”.

As necessidades humanitárias são imensas num território que já antes era afectado por um bloqueio israelita imposto desde 2006, depois da vitória eleitoral do Hamas sobre a Fatah – após uma luta, o Hamas assumiu no ano seguinte o poder em Gaza e a Fatah na Cisjordânia, uma divisão que se mantém até hoje.

A maior parte da população da Faixa de Gaza foi deslocada para Sul, em torno de Rafah, perto da fronteira com o Egipto.

Nos últimos meses, várias figuras do Hamas, como Khaled Meshaal, antigo chefe do bureau político do movimento, afirmaram que era necessário fazer “sacrifícios” para “a libertação” dos palestinianos.

A fome no território está cada vez mais grave, com casos de pessoas a morrer a tentar ir buscar ajuda atirada por avião caída no mar, e várias mortes de crianças subnutridas.

O diário alemão Die Tageszeitung cita o palestiniano Ibrahim Charabischi, que ficou na Cidade de Gaza, no Norte do território, onde há mais dificuldade em obter ajuda, porque não quis deixar os pais sozinhos, dizendo que em alguns dias tentam chegar aos mantimentos lançados por aviões, mas noutros dias estão demasiado cansados “para lutar com milhares de pessoas para conseguir alguma coisa”.

Às vezes a família procura comida que possa ter ficado em casas destruídas. “Às vezes encontramos alguma farinha no chão, com alguma areia. Fazemos um pão arenoso”, descreveu.​

Israel prometeu que com esta ofensiva iria “acabar com o Hamas”, uma missão que sempre foi classificada como praticamente impossível dada a implantação do movimento na sociedade palestiniana. O facto de ter levado a cabo uma grande incursão no Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, que durou duas semanas e que agora terminou, onde já tinha feito um raide anteriormente, mostrou que Israel não conseguiu manter o Hamas (e a Jihad Islâmica, outro movimento islamista no território) afastados de locais onde já interveio militarmente mas de onde retirou a maior parte das forças.