Renováveis empurram preço da electricidade para zero no mercado ibérico

Produção limpa abastece consumo e mantém centrais a gás praticamente paradas.

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Produção eólica abastece mais de metade do consumo eléctrico Adriano Miranda
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A quantidade de energia renovável disponível esta segunda-feira fez com que o preço da electricidade transaccionada no mercado ibérico grossista caísse para zero no período entre as 9h e as 17h, registando-se mesmo preços negativos do lado espanhol.

De acordo com a página do operador do mercado ibérico (o OMIE), o preço médio de mercado para hoje é de 2,77 euros por megawatt-hora MWh (2,76 euros em Espanha), com uma variação entre zero e 21,43 euros (e um mínimo de -0,01 euros por MWh no lado espanhol).

Os dados da REN, que tem a gestão global do sistema eléctrico, indicam que, até às 13h, a produção renovável representou 97% da produção eléctrica (91 gigawatts-hora), prevendo-se um reduzido recurso às centrais eléctricas a gás (7% do consumo), que tornam a electricidade mais cara. O saldo importador é negativo em 4 gigawatt-hora (GWh).

A evolução está em linha com o que tem sucedido desde o início do ano. “Até este dia, a produção renovável representou 89% do consumo eléctrico nacional”, refere a REN.

Para esta segunda-feira está previsto um consumo total de electricidade de 135 GWh (mais de metade, ou 64 GWh assegurados pelas eólicas), com um pico de 7388 MW a atingir às 20h. Essa é também, segundo a informação do OMIE, o período horário em que a electricidade atingirá o valor mais elevado, de 21,43 por MWh.

Já para terça-feira, os valores são algo diferentes, apesar de continuar a haver faixas horárias em que os preços estão a zero, e o valor médio será de 6,54 euros/MWh (9,85 euros MWh no caso de Espanha), com um máximo de 33,42 euros /MWh entre as 21h e as 22h.

Tratando-se de preços grossistas, estes valores não têm influência directa sobre aquilo que a generalidade das famílias paga no final do mês, a não ser as que contrataram tarifários indexados ao mercado, que reflectem estas flutuações.

Ainda assim, há que ter em conta que o custo da energia é apenas uma das componentes do preço final. Há que somar na factura os custos das redes e a elevada carga de taxas e impostos.

O facto de os preços das renováveis se aproximarem de zero foi uma das razões que levaram os legisladores europeus a tentarem promover com a nova legislação do mercado eléctrico a adopção generalizada pelos Estados-membros dos chamados contratos por diferenças, de maneira a atrair investimento para o sector.

A lógica é que, ao fixar um valor de referência para a electricidade, o sistema eléctrico (os consumidores) compensa os produtores quando o preço de mercado fica abaixo desse patamar, reduzindo o risco de um investimento que precisa de previsibilidade de receitas para obter financiamento.

No caso português, cerca de 40% do consumo eléctrico ainda é abastecido com contratos com produtores eólicos com tarifas garantidas.

Segundo a REN, a produção de energias renováveis abasteceu 91% do consumo de energia eléctrica durante o mês de Março. "É o terceiro mês consecutivo com valores acima dos 80%, depois dos 88% em Fevereiro e 81% em Janeiro". Em 2023, as energias renováveis registaram o peso mais elevado de sempre no consumo eléctrico: foram responsáveis por 61% do consumo, num total de 31,2 terawatt hora (TWh). Desde o início do ano, os índices de produtibilidade hídrico e eólico têm registado valores acima da média histórica.

Em consequência, no mercado de gás natural registou-se uma descida homóloga, de 5,8%, em Março, que se deveu à descida da utilização desta energia na produção eléctrica, com "uma quebra homóloga de 24%".

No final do primeiro trimestre, o consumo acumulado anual de gás registou uma descida homóloga de 10%, tratando-se mesmo do consumo mais baixo desde 2014.

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