Morreu Ushio Amagatsu, nome fundamental da dança contemporânea japonesa

Bailarino e coreógrafo tinha 74 anos. Fundou a sua própria companhia, a Sankai Juku, e trabalhou muito na Europa, em dança e em ópera.

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Ushio Amagatsu em palco, em 2006 Carlos de las Piedras
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O bailarino e coreógrafo japonês Ushio Amagatsu, conhecido por ter contribuído para popularizar internacionalmente o butô com a sua companhia Sankai Juku, combinando-o com influências da dança contemporânea ocidental, morreu aos 74 anos, noticiaram este domingo os meios de comunicação social japoneses.

Segundo a família, Amagatsu, a quem fora diagnosticado um cancro há sete anos, morreu de insuficiência cardíaca na segunda-feira, 25 de Março, e teve um funeral privado.

Nascido Masakazu Ueshima, em Yokosuka (a sul de Tóquio), em 1949, o bailarino fundou a companhia Sankai Juku em 1975. Com ela tornou-se uma das principais figuras da segunda geração do butô, uma forma de dança-teatro japonesa nascida nos anos 50 pela mão de Tatsumi Hijikata (1928-1986) e Kazuo Ohno (1906-2010), com uma forte carga humanista, de grande ligação ao mundo natural e aos movimentos de vanguarda nas artes e na literatura, numa altura em que o Japão procurava recuperar da derrota na Segunda Guerra e enfrentava as repercussões dos bombardeamentos atómicos de Hiroxima e Nagasáqui.

Com formação em dança clássica e contemporânea, Amagatsu foi director, coreógrafo, designer e bailarino da companhia e definiu o seu estilo como um "diálogo com a gravidade", título, aliás, do livro que escreveu e que foi publicado em português (VS Editor, 2022), 22 anos depois da edição original, a francesa.

A Sankai Juku estabeleceu a sua base de operações no Théâtre de la Ville, em Paris, em 1982, e desde então tem percorrido o mundo, actuando em cerca de 50 países e apresentando novas produções de dois em dois anos.

A primeira digressão mundial da companhia foi em 1980, mas antes dela já Amagatsu criara três peças que viriam a ser importantes no seu reportório: Amagatsu Sho (1977), Kinkan Shonen (1978) e Sholiba (1979).

Apesar de ter mantido uma forte ligação a esta formação que fundou, e com a qual também concebeu Bakki (1981), para o Festival de Avignon, um dos mais importantes palcos europeus para a dança e o teatro contemporâneos, o bailarino e coreógrafo trabalhava ainda de forma independente, vindo a ser director artístico do Spiral Hall, em Tóquio, onde estreou as suas obras Apocalypse (1989) e Fifth-V (1990), ou criando Fushi (1988), peça com música do norte-americano Philip Glass, a convite do centro Jacob’s Pillow, ao qual está associado um importante festival de dança.

Com uma carreira significativa também na encenação, o nome de Ushio Amagatsu fica ligado a produções como a de O Castelo do Barba-Azul, de Béla Bartók, dirigida pelo maestro e compositor húngaro Péter Eötvös, com quem voltaria a trabalhar noutras óperas de sua autoria: Three Sisters e Lady Sarashina.

Entre os prémios que recebeu ao longo da carreira contam-se a condecoração com a Ordem de Chevalier des Arts et des Lettres de França, em 1992, e o prémio britânico Laurence Olivier para a melhor produção de dança, em 2002, por Hibiki, peça que em Maio de 2004 apresentou no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

"A ressonância vive de uma tensão nascida de uma colisão — duas superfícies esticadas colidem. Se uma delas se solta, a outra faz o mesmo, e a ressonância desaparece", explicava na altura Amagatsu aos jornalistas, falando da influência que nele teve o butô (termo que significa "baixo") e no que distinguia o seu trabalho da dança feita na Europa e nos Estados Unidos. Tecnicamente, dizia ele, a dança contemporânea [ocidental] desafiava as leis da gravidade, enquanto ele, como criador, procurava estar em harmonia com elas.

No Japão, o Ministério da Educação, Cultura e Ciência atribuiu-lhe o Prémio de Promoção da Arte Geijutsu Sensho 2004 pelas suas contribuições notáveis para a dança contemporânea. com Lusa

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