Não, Miguel Prata Roque não baixou as calças em protesto contra o ministro da Educação em 1993

Um tweet afirma que Prata Roque foi um dos universitários que mostraram as nádegas ao ministro da Educação em 1993. É falso: o comentador político estava ainda a entrar no secundário.

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Nuno Ferreira Santos
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A frase

"Quem se lembra do Prata Roque a mostrar as nádegas na televisão?" — Utilizador do X, a 29 de Março de 2024.

O contexto

Uma publicação efectuada nos últimos minutos da última sexta-feira sugere que Miguel Prata Roque — comentador político da SIC que chegou a integrar os governos de António Costa e José Sócrates, e foi também, na qualidade de jurista, assessor do Gabinete de Juízes do Tribunal Constitucional — foi um dos jovens que, em 1993, baixaram as calças e mostraram as nádegas ao ministro António Couto dos Santos quando este detinha a pasta da Educação.

O protesto dos quatro jovens surgiu numa época de contestações estudantis que culminaram, já com Manuela Ferreira Leite como ministra da Educação, em intensos protestos contra as provas globais de acesso ao ensino superior (que tinham sido instauradas em 1989) e contra o aumento dos preços das propinas. Foram estes os movimentos que valeram aos estudantes o título de "geração rasca", expressão que surgiu num editorial do jornalista Vicente Jorge Silva no PÚBLICO em 1994, em reacção àquilo que considerou ser uma série de "expressões de má-criação, estupidez e alarvidade".

A 15 de Abril de 1993, quatro estudantes universitários subiram às cadeiras do Centro Cultural de Belém durante uma intervenção em palco de Couto dos Santos e mostraram uma mensagem escrita a tinta nas nádegas. "Não Pago", podia ler-se nos traseiros dos quatro jovens — sem qualquer ponto de exclamação porque um quinto elemento envolvido no protesto sentiu-se mal e nunca chegou a participar na manifestação. Depois disso, eclodiram apelos à demissão do ministro da Educação.

O vídeo desse momento é o que acompanha o tweet escrito por um utilizador da rede social X — isso e também uma aproximação do rosto de um deles. O autor da mensagem afirmou na mesma plataforma que o jovem nessa imagem é Miguel Prata Roque, jurista e professor, militante do Partido Socialista, que faz comentário político na SIC Notícias. Mas será mesmo assim?

Os factos

Não é verdade que aquele ou algum dos jovens que protestaram contra Couto dos Santos naquele dia seja mesmo Miguel Prata Roque — que, em Abril de 1993, ainda não tinha ingressado na Escola Secundária do Professor Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira, para estudar Humanidades. Prata Roque só entraria na universidade em 1996, para estudar Direito na Universidade de Lisboa.

Por essa altura, Couto dos Santos já se havia demitido três anos antes, em Dezembro de 1993, oito meses depois do protesto dos quatro jovens com as nádegas à mostra. Quando Prata Roque entrou na universidade, o ministro da Educação era Eduardo Marçal Grilo, um independente que integrou o Governo socialista de António Guterres e que cumpriu quatro anos de mandato, de 1995 a 1999.

De resto, uma reportagem da RTP em 2011, numa altura em que uma nova onda de protestos estudantis e de jovens adultos se erguia em Portugal por causa da crise económica, comprova que nenhum dos estudantes da manifestação de 1993 é Miguel Prata Roque. O jovem identificado no X como sendo o comentador político chama-se, afinal, Luís Branco, estudou Comunicação Social da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e, em 2011, tinha 37 anos e era militante do Bloco de Esquerda. Os outros participantes são Jorge Barata, Sérgio Vitorino e João Carlos Louçã.

O veredicto

Não é verdade que Miguel Prata Roque seja um dos quatro jovens que, em protestos estudantis no início dos anos 90, mostraram as nádegas ao ministro Couto dos Santos, responsável pela Educação. O comentador político da SIC ainda não era estudante universitário quando esse protesto decorreu. O manifestante que está a ser identificado como sendo Prata Roque chama-se, afinal, Luís Branco.

O próprio autor do tweet admitiu entretanto, já a meio da manhã deste sábado, que estava enganado e que Prata Roque não surge nas imagens que difundiu. "Qualquer semelhança é pura coincidência."

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