“Aqui vivia uma família”: autocolantes antiturismo invadem alojamentos locais em Málaga

Espanhol em Málaga criou autocolantes contra o sobreturismo após ter ficado sem casa para ser tonar num alojamento local. Começou assim um movimento conhecido agora como “a rebelião dos autocolantes”.

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Quem passear pelas ruas de Málaga pode agora encontrar versões retorcidas e irónicas do símbolo azul com as letras "AT" que, em Espanha, identificam os alojamentos turísticos @aDanielPerez/X
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Podia ser mais uma história, como milhares de outras, de um residente em busca de uma nova casa depois de ter sido despejado do apartamento que arrendava após este ser transformado num alojamento local — mas assumiu outra dimensão.

Frustrado com o impacto do sobreturismo no mercado imobiliário em Málaga, que o impedia de encontrar uma casa que pudesse pagar naquela cidade espanhola, Daniel Romero desabafou sobre o caso nas redes sociais e criou autocolantes contra a selva de alojamentos locais que tem sido alvo de críticas em várias cidades no mundo, incluindo Lisboa, Porto e na região do Algarve. Acabou por criar "uma revolução" que até já tem um nome de rua: "Rebelião dos autocolantes."

Quem passear pelas ruas de Málaga pode agora encontrar versões retorcidas e irónicas do símbolo azul com as letras "AT" que, em Espanha, identificam os alojamentos turísticos. Daniel Romero, dono de um bar, pegou nesses mesmos caracteres e criou uma frase em torno delas: "ATaque contra os cidadãos da cidade" Publicou-a e pediu aos internautas que criassem novas versões.

Estava plantada a semente da "rebelião". Quando publicou o conteúdo nas redes sociais do bar, os seguidores sugeriram mais trocadilhos: "AnTes vivia aqui uma família", "AnTes esta era a minha casa" ou "ApesTado a turista" (em português, "Tresanda a turista"), numa crítica àquilo que consideram ser um excesso de turismo que prejudica a qualidade de vida dos residentes em Málaga.

As imagens transformaram-se em autocolantes e o protesto tornou-se finalmente viral, com cartazes espalhados pela cidade — e até junto aos símbolos dos alojamentos locais. "Não tenho nada contra o turismo, os turistas visitam o meu bar e eu também já fui turista", esclareceu o criador do movimento em declarações citadas pelo The Guardian: "Mas temos de regular o turismo, eu e metade da cidade não podemos viver assim."

Daniel Romero tem 48 anos e soube que teria de sair da casa onde viveu nos últimos dez porque o espaço iria ser transformado num empreendimento turístico. Ainda tentou convencer o senhorio a subir-lhe simplesmente a renda, mas sem sucesso. Quando começou à procura de casa no centro de Málaga, não encontrou nada que estivesse ao seu alcance: "Só vi casas sem janelas ou pediam cauções de 40 mil euros. Ainda na sexta-feira me pediram 200 euros só para visitar o apartamento", contou.

Daniel disse que a maioria das reacções ao movimento, sem ligações partidárias, é positiva, apesar de 80% das pessoas acreditarem que o turismo é "bom" ou "muito bom". Para o espanhol, é fácil compreender porquê. "Tenho 48 anos, um rendimento elevado, dinheiro guardado e não consigo encontrar uma casa. Como é que é a situação das pessoas com 25 anos?", questiona.

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