Rússia detém jornalista que gravou último vídeo de Navalny em vida

Um ano depois da detenção do repórter norte-americano Evan Gershkovich, a Rússia intensificou a sua perseguição aos jornalistas e media independentes que ainda restam.

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Antonina Favorskaya foi acusada de colaborar com a fundação de Alexei Navalny Reuters/Yulia Morozova
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A jornalista russa que gravou o último vídeo em que o oposicionista Alexei Navalny apareceu vivo foi detida e vai permanecer em prisão preventiva durante pelo menos dois meses por suspeita de pertencer a uma “organização extremista”.

Antonina Favorskaya foi detida na quarta-feira ao final do dia, porque as autoridades acreditam que pertence à Fundação Anti-Corrupção, a organização fundada por Navalny que durante anos divulgou casos de corrupção que envolviam dirigentes políticos russos, incluindo o Presidente Vladimir Putin. Em 2021, o Kremlin classificou a fundação como uma “organização extremista” e deu ordem para a sua extinção.

O vídeo gravado por Favorskaya mostra Navalny sorridente durante uma audiência remota, na véspera da sua morte. O político da oposição morreu a 16 de Fevereiro, aos 47 anos, enquanto cumpria pena numa prisão no Círculo Polar Árctico. Segundo as autoridades penitenciárias russas, Navalny morreu de causas naturais, depois de se ter sentido mal após uma caminhada, mas os seus aliados, e vários governos ocidentais, responsabilizam directamente o Kremlin pela sua morte.

O tribunal russo que decretou a prisão de Favorskaya acusa-a de ter feito publicações nas redes sociais em nome da Fundação Anti-Corrupção, o que provaria a sua colaboração. No entanto, a porta-voz da organização, Kira Iarmish, negou que Favorskaya tenha feito qualquer tipo de publicação e disse que apenas foi detida por ter cumprido o seu papel como jornalista.

Favorskaya foi detida pela primeira vez a 17 de Março por ter deixado flores na campa de Navalny, segundo o grupo de defesa dos direitos humanos OVD-Info. Passou dez dias presa por desobediência, mas assim que foi libertada foi novamente acusada e presente a um tribunal de Moscovo, onde lhe foi dada ordem de prisão por dois meses.

O regime russo tem intensificado a intimidação a jornalistas independentes que demonstrem qualquer sinal de crítica a Putin, ao Governo ou à invasão da Ucrânia. Só nos últimos dois dias foram detidos pelo menos seis jornalistas em todo o país, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras.

“Com seis novas detenções num período de poucas horas, acompanhadas por violência, ameaças e buscas, as autoridades estão a aumentar a sua perseguição dos últimos jornalistas e media independentes na Rússia”, disse a directora da RSF para a Europa de Leste e Ásia Central, Jeanne Cavelier.

Alexandra Astakhova e Anastasia Musatova estiveram detidas temporariamente depois de terem ido visitar Favorskaya, enquanto Ekaterina Anikievich e Konstantin Iarov foram detidos enquanto cobriam as buscas à casa da jornalista. “Eles pontapearam-me, puseram o pé na minha cabeça, dobraram-me os dedos, gozaram comigo quando tentei levantar-me, obrigaram-me a mostrar o que tinha na mochila, como se pudesse andar com explosivos”, contou Iarov ao site RusNews.

Na cidade de Ufa, a 1300 quilómetros de Moscovo, a jornalista Olga Komleva foi também detida por alegadamente pertencer à organização de Navalny.

Esta sexta-feira assinalou-se um ano da detenção do jornalista norte-americano Evan Gershkovich, enviado à Rússia pelo Wall Street Journal, de 32 anos, sob suspeita de espionagem. Num comunicado, o Presidente dos EUA, Joe Biden, garantiu que a sua Administração está a fazer tudo para conseguir a libertação do repórter.

“O jornalismo não é um crime, e o Evan foi à Rússia fazer o seu trabalho como repórter, arriscando a sua segurança para iluminar com a verdade a agressão brutal da Rússia contra a Ucrânia”, afirmou Biden. Esta semana, a justiça russa prolongou por mais três meses a prisão de Gershkovich.

Para marcar o primeiro aniversário da detenção de Gershkovich, que se tornou no primeiro jornalista dos EUA a ser preso na Rússia desde o fim da Guerra Fria, o WSJ publicou uma primeira página parcialmente em branco.

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