Campo magnético distorcido observado à volta do buraco negro no centro da Via Láctea

O buraco negro no coração da nossa galáxia, a Via Láctea, está a 26.000 anos-luz de distância da Terra. A sua imagem foi obtida pela primeira vez em 2022 e agora há mais novidades.

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A luz polarizada do buraco negro Sagitário A*, no coração da nossa galáxia, a Via Láctea Colaboração do Telescópio de Horizonte de Evento
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Uma equipa internacional de astrofísicos detectou um campo magnético forte e organizado, distorcido em espiral, à volta do buraco negro supermaciço da Via Láctea, que revela qualidades antes desconhecidas deste objecto tremendamente poderoso escondido no centro da nossa galáxia.

A estrutura do campo magnético que emana da borda do buraco negro chamado Sagitário A* (ou Sgr A*) assemelha-se muito à que rodeia o único outro buraco negro alguma vez fotografado, que reside no centro de uma galáxia próxima chamada Messier 87 (ou M87), anunciaram os astrofísicos esta quarta-feira.

Isto indica que fortes campos magnéticos podem ser uma característica comum aos buracos negros, acrescentou a equipa, que publicou os resultados na revista Astrophysical Journal Letters.

O campo magnético que rodeia o buraco negro no centro da galáxia M87, o M87*, permite-lhe lançar poderosos jactos de material para o espaço, disseram ainda os investigadores. Isto indica que, embora tais jactos não tenham sido detectados até agora em torno de Sagitário A*, podem existir –​ e poderão ser observáveis num futuro próximo.

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Os buracos negros M87* e Sagitário A* lado a lado Colaboração do Telescópio de Horizonte de Eventos

Os astrofísicos divulgaram agora uma nova imagem que mostra pela primeira vez o ambiente à volta do Sagitário A* em luz polarizada, revelando a estrutura do campo magnético. A luz polarizada provém de electrões, partículas subatómicas, que giram em torno de linhas de campo magnético.

O Sagitário A* tem quatro milhões de vezes a massa do nosso Sol e está localizado a cerca de 26.000 anos-luz de distância da Terra. A sua imagem, ou mais exactamente, a imagem da sua sombra foi obtida pela primeira vez em 2022, depois de tal feito inédito ter sido alcançado em 2019 para o buraco negro no centro da galáxia M87.

“Durante algum tempo, acreditámos que os campos magnéticos desempenhavam um papel fundamental na forma como os buracos negros se alimentam e ejectam matéria em jactos poderosos”, disse a astrónoma Sara Issaoun, do Centro de Astrofísica de Harvard-Smithsonian (nos Estados Unidos) e co-líder da investigação.

“Esta nova imagem, juntamente com uma estrutura de polarização muito semelhante à observada no buraco negro M87*, que é muito maior e mais poderoso, mostra que campos magnéticos fortes e ordenados são cruciais para a forma como os buracos negros interagem com o gás e a matéria à sua volta”, acrescentou Sara Issaoun.

Os buracos negros são objectos extraordinariamente densos, com uma gravidade tão forte que nem a luz consegue escapar, uma vez caída dentro destes objectos, o que torna a sua visualização extremamente difícil.

“O campo magnético parece estar organizado numa espiral, semelhante ao de M87*. Esta geometria do campo magnético implica que o buraco negro pode alimentar jactos muito eficientes disparados para a galáxia, disse outro dos investigadores, o astrónomo Angelo Ricarte, do Centro de Astrofísica de Harvard-Smithsonian.

A nova imagem, tal como as imagens anteriores do Sagitário A* e do buraco negro M87, foi obtida usando o Telescópio de Horizonte de Evento (EHT, na sigla em inglês), uma rede global de observatórios que trabalha de forma colectiva para observar fontes de rádio associadas a buracos negros.

O horizonte de evento de um buraco negro é o ponto de não retorno para além do qual tudo estrelas, planetas, gás, poeira e todas as formas de radiação electromagnética é arrastado para o esquecimento.

Quando um buraco negro se alimenta

“Ao obtermos imagens de luz polarizada de gás quente incandescente perto de buracos negros, estamos a inferir directamente a estrutura e a força dos campos magnéticos que acompanham o fluxo de gás e matéria de que o buraco negro se alimenta e ejecta, explicou Sara Issaoun.

“Em comparação com os resultados anteriores, a luz polarizada ensina-nos muito mais sobre a astrofísica, as propriedades do gás e os mecanismos que ocorrem quando um buraco negro se alimenta, acrescentou a astrofísica.

A luz é uma onda electromagnética oscilante que permite ver os objectos. Por vezes, a luz oscila numa orientação específica, o que se designa por luz polarizada.

O buraco negro M87 tem uma massa seis mil milhões de vezes superior à do nosso Sol e está alojado no centro de uma galáxia elíptica gigante. Projecta um poderoso jacto de plasma gás tão quente que alguns ou todos os seus átomos se dividem em partículas subatómicas, electrões e iões visível em todos os comprimentos de onda.

As provas da existência de um jacto a partir do Sagitário A* estão a aumentar, disseram ainda os investigadores. “Uma coisa que nos entusiasma muito é a previsão da existência de um jacto poderoso. À medida que a nossa instrumentação for melhorando nos próximos anos, se ele existir, deveremos ser capazes de o extrair dos dados”, antevê Angelo​ Ricarte.

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