PS diz que não deu a mão ao PSD, mas a esquerda viu a oposição perder força

Bastaram pouco mais de 24 horas para que o PS chegasse a um entendimento com o PSD. Pedro Nuno Santos garantiu que foi uma decisão puramente institucional, mas a esquerda não gostou.

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Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro reuniram-se duas vezes durante a manhã Daniel Rocha
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Depois de horas de conversas de bastidores, o nome de José Pedro Aguiar-Branco foi aprovado ― à quarta tentativa ―, mas só depois de PS e PSD se terem reunido para acordar que a presidência da Assembleia da República seria repartida no tempo. E se dentro do PS o entendimento é que este foi o preço a pagar para garantir uma solução "institucional" de desbloqueio, alguma esquerda não gostou de ter tido conhecimento da reunião pelos jornais, depois de na terça-feira os socialistas terem feito "vários contactos" com os partidos de esquerda para comunicarem a candidatura de Francisco Assis. E a ideia de que, à esquerda, há uma frente unida na oposição à direita caiu no segundo dia de Parlamento.

A manhã começou com duas reuniões entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro: a primeira por vídeo, estando o secretário-geral do PS acompanhado por Francisco Assis, mas o presidente do PSD aparentemente sozinho. Os socialistas apresentaram a proposta para uma presidência partilhada durante a legislatura, argumentaram com o sistema usado em Bruxelas. Só no segundo encontro, presencial, já com uma comitiva maior de cada partido, foram discutidos os pormenores para a aplicação desse entendimento, uma vez que havia diversas opções possíveis: os dois partidos presidirem um ano de cada vez ou em blocos de dois anos e quem deveria começar, se PSD ou PS.

Terá sido durante essa segunda reunião que Pedro Nuno tentou contactar os líderes dos partidos da esquerda, dos quais apenas Mariana Mortágua atendeu. Nessa conversa, a líder do BE terá concordado com o entendimento. O contacto com Rui Tavares foi mais informal, já enquanto decorria a votação, num dos corredores junto ao plenário. E o contacto com o PCP terá também sido só nessa altura, já muito depois de o PSD e o PS terem confirmado o entendimento para a eleição de Aguiar-Branco.

No PS, a narrativa que passa para o exterior é que o entendimento com o PSD para a presidência repartida não provocou divisões no grupo parlamentar. De acordo com informações recolhidas pelo PÚBLICO junto de deputados socialistas, a solução apresentada por Pedro Nuno Santos ao grupo parlamentar não foi problemática, tendo sido encarada como uma evidência da instabilidade da direita e das dificuldades que o PSD terá com esta composição parlamentar. Para um dos socialistas ouvidos, a solução conhecida esta quarta-feira é uma solução de "compromisso institucional", mas não político, que serve apenas para "desbloquear" os trabalhos parlamentares e acabar com a "péssima imagem" que o impasse gerou na opinião pública.

Foram, porém, deixados alguns alertas para que este entendimento no segundo dia da XVI legislatura não fosse visto como o PS a dar a mão ao PSD, para que o lugar dos socialistas na oposição se mantenha claro. No final do dia, Pedro Nuno Santos reforçou essa mensagem, insistindo que o entendimento com o PSD foi "apenas institucional", até porque não estava em causa "nenhuma preferência programática". Embora não se tenham ouvido vozes dissidentes do lado do PS, a verdade é que, após a confirmação da eleição de Aguiar-Branco, foram poucos os socialistas que bateram palmas e ouviram-se até críticas no momento em que o presidente da Assembleia da República cumprimentou todas as bancadas, incluindo a do Chega.

A decisão do PS não teve o apoio dos restantes partidos à esquerda, que, depois de votarem a favor de Francisco Assis, se distanciaram de um entendimento do "bloco central" em nome de um "suposto combate à direita" radical. O BE ― que ainda não foi recebido pelo PS ― tem apelado a uma oposição unida à esquerda e por isso discordou da solução acordada pelo PSD. Já o Livre não poupou nas críticas "aos dois partidos", que ignoraram "o sistema parlamentarista" e decidiram um entendimento sem que a restante esquerda fosse ouvida no processo.

Por sua vez, o PCP assumiu-se céptico em relação à posição que o PS assumirá no papel da oposição, que "em nome de um suposto combate à direita" criou "condições para que a política de direita prossiga". E ainda que o desbloqueio da votação não tenha tido contrapartidas programáticas, à esquerda a sensação que ficou é a de que estes entendimentos ao centro se deverão repetir e que o projecto de combate à direita ficou mais fragilizado com a abertura deste precedente.

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