Benfica viveu e morreu pela ousadia na Champions feminina

A abordagem de risco total compensou? Para quem valoriza o resultado, não. Para quem valoriza a evolução, sim. As mulheres do Benfica caíram na Champions, mas cresceram e escreveram história na prova.

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Benfica e Lyon em duelo em França Reuters/Denis Balibouse
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Os ingleses gostam de motivar a audácia e a coragem dizendo “go big or go home” – sugestão de que mais vale ficar em casa do que não arriscar pela ousadia – e, nesta quarta-feira, foi isso que as jogadoras do Benfica fizeram na Liga dos Campeões. Jogaram como grandes, arriscaram muito, quiseram igualar-se a uma equipa de topo mundial, mas o desfecho foi mesmo a ida para casa. No fundo, foi pela audácia que o Benfica conseguiu criar tantas dificuldades ao Lyon, mas também foi por ela que “morreu” na prova.

Com o 4-1 em França, frente ao Lyon, a equipa “encarnada” foi eliminada nos quartos-de-final da prova europeia, depois da derrota por 2-1 em Lisboa, no primeiro jogo.

Mesmo com esta eliminação, a história está escrita: nunca uma equipa portuguesa tinha aqui chegado e, a avaliar pela réplica dada a uma equipa oito vezes campeã da Europa, é fácil prever mais presenças nesta fase da prova.

Mais do mesmo

O que se passou em Lyon a nível de jogo foi semelhante ao que aconteceu a Lisboa. O Benfica voltou a apostar numa ideia de jogo algo “suicida”, mas com alto potencial de recompensa. A marcação individual a campo inteiro permitia recuperar bolas em zonas adiantadas, mas, caso o desarme falhasse – ou houvesse outra falha a nível técnico ou físico – isso expunha a equipa.

Este problema ganhou uma dimensão ainda mais perigosa quando uma das defensoras se chamava Ucheibe. A nigeriana ganha muitos lances pela força física, quando consegue aplicá-la, mas teve, tal como na Luz, falhas a todos os níveis: controlo do espaço, perdas de bola em zona defensiva, mau controlo da linha do fora-de-jogo (mesmo quando podia ver a linha de frente, marcada pela central do lado da bola) e, como sempre, avidez desmedida na saída à portadora da bola, expondo a equipa.

Em 13 minutos já tinha cometido quatro falhas comprometedoras, de índoles variadas, e foi somando mais algumas durante o jogo.

Isto deixou a equipa exposta diversas vezes, algo também espoletado pela incapacidade de Gasper e Faria ganharem segundas bolas e recuperarem depois de momentos de pressão alta.

Jéssica veio tarde

O Lyon acabou por chegar ao golo depois de várias oportunidades perdidas e fê-lo num lance em que o Benfica, a pressionar alto, ficou em 2x2 atrás e um mau atraso de Laís para Pauels obrigou a guarda-redes a deixar a baliza aberta para a finalização em “balão” de Cascarino.

Logo a seguir, entrou Kika ao serviço. A craque do Benfica tinha pegado pouco na bola em fase de construção (era mais útil mais à frente), mas, quando o fez, inventou um golo. Com um passe tremendo de 30 metros a romper a defesa, pelo chão, lançou Lúcia Alves, que cruzou para o 1-1, com “encosto” de Alidou.

Aos 52’, mais um momento de risco absolutamente desmedido. A pressão alta do Benfica, com a bola nas mãos da guarda-redes adversária, deixou a defesa em quatro contra cinco (!). Resultado: bola longa da guardiã ganha na frente e jogada individual de Cascarino, sem especial réplica, a dar golo com remate de fora da área.

O Benfica passou a precisar de dois golos para igualar a eliminatória e três para seguir em frente. Era uma utopia total, mas o que sobrou do jogo deu para perceber, pelo menos, que com Jéssica Silva a “conversa” poderia ter sido outra. Jéssica ligou o jogo e foi sobretudo isso que faltou ofensivamente ao Benfica em muitos momentos desta eliminatória.

Foram muitas as bolas perdidas por Chandra e Alidou em apoios frontais, comparadas com a capacidade de Jéssica nesse domínio nos minutos em que esteve em campo – participou em 30 dos 180, alegadamente por questões disciplinares não explicadas por Filipa Patão.

Ainda houve tempo para o 3-1 e 4-1, que não eram mais do que a materialização de uma avalanche ofensiva do Lyon até então mal finalizada.

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