Arigato, Sakamoto-san
O testamento artístico de Ryuichi Sakamoto, mais do que um adeus à música, é uma celebração — um filme-concerto ao nível de Stop Making Sense ou Amazing Grace.
Costuma dizer-se que “a perfeição a Deus pertence” e que, por isso, nada que o ser humano possa fazer alguma vez será perfeito. Talvez por isso Neo Sora e Ryuichi Sakamoto tenham deixado, mesmo no centro de Opus, um momento em que os dedos falham, as teclas se desarticulam, a música se desfaz; em que a fragilidade de um músico que se engana e que tem de recomeçar a peça se revela por inteiro. Esse momento, colocado entre a perfeição quase apolínea deste “falso” filme-concerto, apenas engrandece o músico-pai e o realizador-filho, tornando visível a nuvem que paira sobre Opus como uma chuva de Verão que vem de súbito refrescar o ambiente: este é o testamento artístico do músico japonês, falecido faz agora um ano, rodado quando já era impossível a Sakamoto actuar ao vivo, e depurando ainda mais a sua arte do piano solo até um ponto de quase diamante.
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