Diz-me as tuas emoções e eu direi que política climática defendes

As nossas respostas emocionais às alterações climáticas estão associadas às políticas que apoiamos, sugere estudo da PLOS. Resultados podem ajudar a desenhar campanhas ambientais mais eficazes.

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Os cidadãos que referem ter mais esperança preferem investir em soluções proactivas, como as energias renováveis, sugere estudo FGTrade/Getty Images
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As emoções que os cidadãos sentem em relação à mudança do clima estão associadas às medidas de acção climática que estão dispostos a apoiar, sugere um estudo publicado esta quarta-feira na revista científica PLOS Climate. Os resultados deste trabalho podem ajudar, segundo os autores, a conceber campanhas ambientais mais eficazes, com o tom emocional adequado.

“As reacções emocionais das pessoas às alterações climáticas estão relacionadas com a sua preferência política para responder a esse desafio: os que se sentem mais culpados apostam em políticas que exijam sacrifícios pessoais [como o aumento do preço da gasolina], os que têm mais esperança preferem investir em soluções proactivas, como as energias renováveis. Já os que têm medo desejam maior regulação – das indústrias de combustíveis fósseis, por exemplo”, explica ao PÚBLICO Teresa A. Myers, primeira autora do estudo.

Os autores focaram-se em cinco tipos diferentes de emoções comummente associadas às alterações climáticas: culpa, raiva, esperança, tristeza e medo. Recorrendo às respostas existentes de um inquérito representativo da população norte-americana, os investigadores conseguiram extrair dados relativos não só às respostas emocionais dos cidadãos, mas também às preferências em matéria de política climática.

Intitulado Climate Change in the American Mind (alterações climáticas no pensamento americano, numa tradução livre), o inquérito em causa envolveu 16.605 participantes e foi realizado semestralmente, entre 2010 e 2022, pela empresa de estudos de mercado Ipsos. Os questionários incluíam perguntas como: "Com que intensidade sente cada uma das seguintes emoções quando pensa no aquecimento global?".

Os resultados indicam que a culpa e a raiva estão mais fortemente associadas ao apoio a políticas dispendiosas (impostos sobre o valor dos combustíveis). Já a esperança e a tristeza estão mais ligadas a políticas proactivas, como o investimento em infra-estruturas que previnam emissões de gases com efeito de estufa.

“Penso que esta investigação pode ajudar os responsáveis pela criação de campanhas sobre o clima, permitindo-lhes ver qual tom emocional está provavelmente mais associado às políticas pretendidas. Assim, se uma campanha se constrói em torno do medo, esse tom emocional estará mais associado ao apoio à regulamentação, quando na verdade a intenção da campanha era aumentar o apoio às energias renováveis”, exemplifica Teresa A. Myers, numa resposta por e-mail.

“O medo, embora mais fortemente associado ao apoio a políticas regulatórias (a regulação de emissões, por exemplo) em comparação com outros tipos de políticas, esteve mais fortemente associado a todos os tipos de apoio político em comparação com as demais emoções”, acrescenta uma nota de imprensa da PLOS Climate.

A autora confessa que ficou surpreendida com o facto de a raiva estar mais fortemente relacionada com o apoio a políticas que impliquem sacrifício pessoal ou financeiro, em vez de uma regulamentação mais apertada.

“Esta constatação pode dever-se ao facto de não sabermos exactamente por que razão as pessoas estavam zangadas. Alguns participantes poderiam estar zangados com os cientistas que afirmam que as alterações climáticas estão aí, por exemplo. Mas pensava que, em teoria, o argumento de que a raiva levaria ao apoio à regulamentação era bastante forte”, confessa a investigadora.

Espectro limitado de emoções

O artigo enumera diferentes limitações, pelo que os autores sublinham a necessidade de mais estudos para estabelecer essa relação entre respostas emocionais e políticas climáticas. A amostra estudada também só é representativa da população norte-americana, pelo que os resultados não podem ser extrapolados para países como Portugal, por exemplo.

“As reacções emocionais têm certamente implicações culturais; outros estudos concluíram que as reacções emocionais às alterações climáticas diferem de país para país — tanto no que diz respeito à quantidade total de reacções emocionais, como aos tipos de emoções relatadas”, sublinha a autora.

Outra limitação está no facto de as emoções humanas desdobrarem-se num vasto espectro, não se resumindo a apenas cinco respostas emocionais. “Os desafios são múltiplos. Um deles é que as pessoas podem ter inúmeras reacções emocionais distintas às alterações climáticas — as cinco que incluímos, mas também outras como a compaixão, o orgulho, a responsabilidade e a solidariedade. É um desafio estudar muitas reacções diferentes ao mesmo tempo, pelo que é difícil obter um quadro emocional completo”, reconhece Teresa A. Myers.