Num dia nublado em Tóquio, três dúzias de homens e mulheres passearam por um jardim botânico em grupos de quatro, conversando nervosamente enquanto procuravam pistas para um jogo de mistério — e um potencial parceiro para a vida.
São participantes de um dos muitos eventos de matchmaking que o governo da capital do Japão organiza há anos, numa tentativa, até agora infrutífera, de inverter o declínio dos casamentos e dos nascimentos. Depois de ter organizado festas e oferecido conselhos sobre encontros e moda, a metrópole de 14 milhões de habitantes espera agora ter um alcance mais alargado e melhores resultados, lançando uma aplicação de encontros alimentada por inteligência artificial (IA) já na Primavera.
A aplicação fará mais de 100 perguntas aos candidatos a matrimónio, tais como "Que tipo de pessoa não suporta?" e "Sente-se à vontade para partilhar os seus sentimentos?". Sugerirá correspondências utilizando grandes volumes de dados recolhidos a partir das respostas de 150 mil casais.
Tóquio planeia examinar os utilizadores através de entrevistas online e exigir um certificado que comprove o seu estatuto de solteiro, um processo que Kaori Shiratori, uma funcionária pública de 56 anos que ganhou o sorteio para o evento no jardim botânico, considerou tranquilizador. "Gostaria de experimentar a nova aplicação", disse, antes de deixar o jardim sem um par. "Tentei ganhar coragem para falar com um homem que me pareceu atraente, mas toda a gente correu para ele e não tive hipótese."
Um homem de 32 anos que pediu para ser identificado apenas pelo seu apelido, Fujita, disse que costumava hesitar em procurar uma parceira porque trabalhava a tempo parcial. Depois de ter conseguido um emprego estável num lar de idosos, está agora ansioso por encontrar alguém com quem passar o tempo, escalar montanhas e visitar templos. "Posso confiar na aplicação se for supervisionada por Tóquio, porque penso que eles tratariam as informações pessoais com mais cuidado", acredita.
Com uma população que deverá começar a diminuir a partir de 2030, Tóquio vai quase duplicar para 335 milhões de ienes (dois milhões de euros) o seu orçamento para serviços de apoio ao casamento, no ano fiscal que começa no próximo mês. A capital junta-se a governos vizinhos, como os das províncias de Saitama e Ibaraki, na oferta de serviços de aplicações de casamento.
O governo do Primeiro-Ministro Fumio Kishida também identificou a baixa taxa de natalidade do Japão — a população nacional tem vindo a diminuir desde o seu pico em 2008 — como um dos principais problemas que exigem acção nesta década. Quase um terço dos homens de Tóquio na casa dos 50 anos nunca se casou, enquanto os dados recolhidos pela Recruit Holdings mostram que 46% dos homens e 30% das mulheres na casa dos 20 anos no Japão nunca namoraram.
"Estamos a tentar criar um ponto de entrada fácil para aqueles que querem casar, mas que não sabem onde ir ou têm medo de começar", disse Asako Suyama, funcionária do governo de Tóquio, que dirige os serviços de apoio ao casamento na cidade.
A nova aplicação, que estará disponível para as pessoas que residem, trabalham ou estudam em Tóquio, também exigirá um comprovativo de rendimento.