Kremlin insiste em ligar Ucrânia ao atentado em Moscovo
A Rússia diz duvidar da autoria do Daesh. Os quatro suspeitos de terem sido os atiradores responsáveis pela morte de 137 pessoas na sexta-feira foram levados a tribunal.
A Rússia continua a pôr em causa a tese de que os autores do ataque terrorista de sexta-feira, 22 de Março, numa sala de concertos em Moscovo, pertencem ao Daesh. No domingo, quatro suspeitos capturados pelas forças de segurança russas foram presentes a tribunal e ficaram em prisão preventiva.
O Governo russo tem dúvidas sobre a autoria do ataque numa sala de espectáculos nos arredores de Moscovo em que morreram 137 pessoas e 182 ficaram feridas – foi o pior atentado em solo russo nas últimas duas décadas. O ataque foi reivindicado pelo Daesh-Khorasan, um braço do Daesh com uma base territorial assente no Afeganistão, Paquistão e Síria.
"Esta atrocidade pode ser apenas um elo de uma série de tentativas por parte daqueles que estão em guerra com o nosso país desde 2014 pelas mãos do regime neonazi de Kiev", disse Putin, na segunda-feira, citado pela agência Reuters. Ainda de acordo com o Presidente russo, os que planearam o ataque "esperavam semear o pânico e a discórdia na sociedade russa, mas encontraram unidade e determinação para resistir a este mal".
Os serviços de informação dos EUA, que já tinham deixado alertas para a possibilidade de ocorrerem ataques deste género em Moscovo, confirmaram a veracidade da reivindicação. Os canais de propaganda ligados ao Daesh publicaram vídeos do ataque que parecem confirmar a sua participação.
Esta segunda-feira, o Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que o mesmo grupo "tentou levar a cabo várias acções" em França, durante uma visita à Guiana Francesa. Paris elevou o nível de alerta de segurança para o máximo logo após o ataque em Moscovo.
No entanto, a linha oficial seguida pelas autoridades russas continua a apontar na direcção da Ucrânia. No discurso que fez em reacção ao ataque, o Presidente Vladimir Putin já tinha responsabilizado a Ucrânia, acusando-a de ajudar os autores do atentado a fugir.
Os quatro suspeitos capturados no fim-de-semana foram encontrados na região de Briansk, perto da fronteira com a Ucrânia, mas as autoridades de Kiev negam qualquer tipo de participação no atentado e acusam Putin de tentar desviar as atenções da responsabilidade do próprio Estado russo.
Esta segunda-feira, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, pôs em causa a confirmação pelos EUA de que o ataque foi levado a cabo pelo Daesh. “Atenção, uma pergunta para a Casa Branca: têm a certeza que foi o ISIS [acrónimo pelo qual é também conhecido o Daesh]? Será que podem pensar melhor sobre isso?”, escreveu Zakharova numa coluna de opinião publicada no jornal Komsomoloskaya Pravda. Zakharova acusou ainda Washington de estar a acenar com um “papão” com o objectivo de ocultar a responsabilidade dos seus “protegidos” de Kiev.
Nos canais televisivos patrocinados pelo Kremlin, a tese de que a Ucrânia esteve por trás do ataque também foi largamente difundida. Uma conhecida apresentadora disse que os serviços de informação ucranianos recrutaram homens “que pareciam pertencer ao Daesh, mas que não eram do Daesh”.
Suspeitos espancados
Entretanto, as forças de segurança russas detiveram pelo menos 11 pessoas alegadamente ligadas ao ataque, incluindo quatro suspeitos de terem sido os atiradores. Os quatro homens, identificados como cidadãos do Tajiquistão, foram levados a tribunal no domingo e apareceram em público com sinais evidentes de maus tratos. O Governo do Tajiquistão negou que os homens sejam cidadãos nacionais.
Os suspeitos foram identificados como Dalerdzhon Mirzoyev, Saidakrami Murodali Rachabalizoda, Shamsidin Fariduni e Muhammadsobir Fayzov. Os homens apresentavam equimoses na cara, olhos inchados, um parecia não ter um olho e outro apareceu na sessão do tribunal numa cadeira de rodas.
Nas redes sociais circularam vídeos que, alegadamente, mostravam as sessões muito violentas dos interrogatórios. Num dos vídeos um dos homens parece ser sujeito a choques eléctricos e a outro é arrancada parte da orelha e posta à força dentro da sua boca.
*Texto actualizado às 19h com as declarações de Vladimir Putin