Fatimetou Abdel Malick, a primeira mulher presidente de câmara na Mauritânia
Em 2001, Fatimetou Abdel Malick tornou-se a primeira presidente de uma câmara municipal na Mauritânia. Hoje já são sete no país, onde as desigualdades entre mulheres e homens são notórias.
É com orgulho que Fatimetou Abdel Malick afirma: “Fui a primeira mulher a ser presidente de uma câmara municipal na Mauritânia e depois de uma região.” Di-lo num evento com centenas de outros líderes locais e regionais, onde a maioria serão homens, a 10.ª Cimeira Europeia das Regiões e dos Municípios, que decorreu segunda e terça-feira, na cidade belga de Mons.
Foi em 2001 que Fatimetou Abdel Malick se tornou a primeira mulher presidente de câmara na Mauritânia, onde nasceu em 1958. Estudou Informática na Bélgica, mas foi em Nouakchott, antes de ter um cargo de gestão de redes de um banco, que abriu um gabinete de serviços informáticos, de acordo com a revista Jeune Afrique.
A cidade que geriu chama-se Tevragh-Zeina e é a capital da região de Nouakchott-Ouest, que fica no Oeste do país. O convite para se candidatar à presidência da cidade foi feito pelo Partido Republicano Democrático e Social. Depois, da vitória em 2001, acabou por ser eleita por mais dois mandatos além desse primeiro.
“A minha vocação é servir as pessoas”, afirmou ao PÚBLICO, depois da sua intervenção na Cimeira Europeia das Regiões e dos Municípios, na segunda-feira. Ao longo da sua presidência, tinha três grandes objectivos: o primeiro era mostrar que uma mulher pode ser presidente de câmara. O segundo era tornar-se um modelo para outras mulheres: “As mulheres têm de dizer: ‘Aqui está uma mulher que conseguiu, porque é que eu não consigo?’”, afirma. A sua terceira missão foi o combate às alterações climáticas: “Via que a cidade estava degradada e que era preciso fazer alguma coisa.” A Jeune Afrique destaca precisamente essa luta, nomeadamente no controlo de inundações e da criação de um corredor verde.
Ao longo dos anos, Fatimetou Abdel Malick foi ainda secretária do Ministério do Urbanismo da Mauritânia e responsável por projectos no gabinete do primeiro-ministro. Também foi presidente da Rede para as Mulheres Eleitas a Nível Local em África. Em 2023, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, nomeou-a para o Grupo Consultivo dos Governos Locais e Regionais. Hoje é ainda presidente da região de Nouakchott e membro da secção de África da Organização Mundial de Cidades e Governos Locais Unidos.
Ao longo da sua vida, tem vindo a lutar para que outras mulheres sejam eleitas presidentes de câmara em África. “Hoje já são sete. Fui a primeira”, nota. Mas o caminho é longo: há mais de 200 câmaras no país.
Fatimetou Abdel Malick diz estar numa posição de “privilégio” em relação a outras mulheres em África, mas que também teve de ultrapassar obstáculos. “Há problemas, nomeadamente em relação aos cadernos eleitorais, onde as mulheres estão pouco presentes”, nota.
Apesar de a Mauritânia ter feito “esforços significativos” a nível dos direitos humanos de raparigas e mulheres, nomeadamente na eleição de mulheres na política ou na legislação de práticas como a mutilação genital feminina, há falhas que permanecem e continuam a impedir progressos, assinalou um grupo de trabalho das Nações Unidas para a discriminação contra as mulheres. Os especialistas referem que houve melhorias na educação e nas oportunidades económicas dadas às mulheres e raparigas. Contudo, há raparigas a desistir da escola para se casarem ou o número de mulheres no mercado de trabalho é desproporcional relativamente ao de homens.
O PÚBLICO viajou a convite do Comité das Regiões Europeu