“Praticamente impossível”: a frase consensual na reunião do PS
Assis defendeu que “só em circunstâncias absolutamente excepcionais” o PS pode abster-se no Orçamento, apoiando Pedro Nuno, que disse que está para durar e pediu palmas para Augusto Santos Silva.
A estratégia de Pedro Nuno Santos, a de que é “praticamente impossível” o PS aprovar o primeiro Orçamento do Estado de Luís Montenegro, não foi contestada na primeira reunião da comissão política depois das eleições, apurou o PÚBLICO.
“Eles vão governar, têm de apresentar uma solução estável. Praticamente impossível é exactamente isso”, disse o secretário-geral do PS na intervenção final da reunião da Comissão Política, quando já passava da uma da manhã de sexta-feira. “Temos de ser responsáveis, mas não é nossa obrigação facilitar a vida ao PSD”, afirmou, segundo fontes presentes na reunião.
Na intervenção no final da reunião, Pedro Nuno anunciou o seu objectivo de continuar a liderar o PS por muito tempo: “Fui eleito em Dezembro, tive Congresso em Janeiro, eleições em Março e não vou a lado nenhum tão cedo. Sem medo, focado no trabalho, sem entrar no discurso deles nem ceder a chantagens”.
José Luís Carneiro, o adversário do secretário-geral nas directas do PS, decidiu não intervir na reunião, embora à entrada tenha sinalizado a sua discordância com a estratégia aprovada por unanimidade na segunda-feira no secretariado nacional - o facto de ser “praticamente impossível” o PS viabilizar o Orçamento do Governo PSD.
À chegada ao Largo do Rato, no início da reunião, Carneiro afirmou ser “cedo” para falar sobre o futuro Orçamento e que a discussão, “que ainda vem longe”, não é, por enquanto, “oportuna".
O derrotado da véspera, Augusto Santos Silva, que perdeu o lugar de deputado pelo círculo Fora da Europa para o Chega, ensaiou na reunião da Comissão Política uma espécie de despedida, mas fez notar que só se tenciona reformar aos 75 anos. E falta bastante tempo, porque só tem 67.
Pedro Nuno Santos agradeceu o trabalho de Augusto Santos Silva e pediu uma salva de palmas para o ainda Presidente da Assembleia da República, outrora a sua bête-noire, com quem travou discussões públicas sobre a estratégia do PS.
Um dos discursos mais esperados da noite era o de Francisco Assis, que apoiou Pedro Nuno na disputa interna e que se tem mantido em silêncio desde as eleições. Se, no passado, Assis defendeu, muitas vezes, entendimentos entre o PS e o PSD (até recentemente depois das eleições nos Açores) na reunião da Comissão Política esteve ao lado da estratégia de Pedro Nuno Santos e considerou o “praticamente impossível” o termo correcto a utilizar.
Na mesma linha da direcção, Francisco Assis defendeu que o PS tem “um duplo combate” difícil: um combate contra o Governo AD e contra a ameaça ao regime que o Chega constitui. Afirmou que o PS deve deixar claro que é oposição ao Governo e que isso significa que terá a “propensão natural para votar contra o Orçamento”. “Só em circunstâncias excepcionais o poderá não fazer”, disse.
O antigo presidente do Conselho Económico e Social afirmou também que “seria absurdo que o PS estivesse disponível para corresponder a um apelo que não lhe foi feito”, registando que “a AD preferiu o Chega ao PS” na primeira votação da nova legislatura para a constituição da mesa da Assembleia da República. Defendeu que a formulação de “praticamente impossível” – usada por Pedro Nuno – é a correcta e diferente de “impossível”, porque “salvaguarda o PS”. E ironizou com aqueles que, à partida, já defendem a viabilização do primeiro orçamento de Montenegro: “Vejo algum PS mais preocupado com as condições de governabilidade da AD do que a própria AD”. No entanto, manifestou-se contra uma “gerigonça da oposição”, por causa do desafio da líder do Bloco de Esquerda para um entendimento entre todos os partidos de esquerda. No fim, Pedro Nuno responderia que recebe todos os partidos e que "quem não tem dúvidas sobre a sua capacidade de liderar à esquerda recebe toda a gente".
Sérgio Sousa Pinto, outro dos elementos da chamada “ala direita” que apoiou Pedro Nuno Santos nas directas do PS, afirmou que o PS não pode deixar o centro político ao PSD, uma vez que “entalado entre o PS e o Chega o PSD dispõe de condições únicas para disputar esse espaço”.
Sobre o futuro Orçamento, Sérgio Sousa Pinto disse que “a responsabilidade de criar condições para governar é de Montenegro”, que o PS não tem como “vocação ou dever constituir-se como muleta dos governos PSD” e que o seu papel é ser “alternativa”. No entanto, fez um aviso de que o partido “não se deve condicionar com tomadas de posição precipitadas” e que as eleições vão acontecer quando Montenegro quiser. Sérgio Sousa Pinto considerou que a votação no Chega reflecte um eleitorado “zangado”, que “pode ser conquistado e recuperado”.
Foi a primeira prova de Pedro Nuno Santos depois das eleições, que ultrapassou facilmente. O segundo round será no sábado, na reunião da Comissão Nacional do PS, em Viseu.