Depois de Neil Young, Joni Mitchell volta ao Spotify

Os dois músicos canadianos haviam abandonado a plataforma de streaming por esta albergar um podcast que espalhava desinformação sobre a covid-19. Ambos estão de volta ao serviço.

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Joni Mitchell TOM BRENNER/Reuters
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Mais de dois anos depois de ter retirado a sua música da plataforma de streaming Spotify, a cantautora Joni Mitchell devolveu o seu catálogo de canções ao serviço. Sem explicações para o recuo, depois de ter saído em solidariedade com Neil Young e o seu protesto por o Spotify dar espaço a programas como o de Joe Rogan, em que se espalhava desinformação sobre a covid-19 e as vacinas, por exemplo, Mitchell segue novamente na peugada de Young, que também reatou com o serviço na semana passada.

Ao contrário de Joni Mitchell, o celebrado autor de Harvest Moon esclareceu por que razão voltou a disponibilizar a sua obra na maior plataforma de streaming musical do mundo: “A minha decisão surge numa altura em que os serviços de música Apple e Amazon começaram a oferecer os mesmos tipos de desinformação em podcast a que me opus no Spotify. Não posso simplesmente abandonar a Apple e a Amazon, como fiz com o Spotify, porque a minha música teria muito pouca saída em streaming para os amantes da música.”

No cerne da questão está o podcast de Joe Rogan, um dos reis do mundo destes programas de áudio disponibilizados via streaming, figura polémica cujo The Joe Rogan Experience é um dos mais cobiçados títulos do meio. Exclusivo do Spotify até certa altura, está desde Fevereiro também em plataformas como a Apple Podcasts, o YouTube e a Amazon Music.

Rogan discorre sobre vários temas e atrai convidados das mais variadas áreas, políticas ou culturais. Albergar o seu podcast custou ao Spotify cerca de 92,5 milhões de dólares em 2020, quando o problema da desinformação e a atitude agressiva e polémica do também comediante eram bem conhecidos. A renegociação do seu contrato com a plataforma, estimada em cerca de 229 milhões de euros, permitiu que o podcast esteja agora disponível também em outras plataformas.

Em 2021, The Joe Rogan Experience era o podcast mais popular no Spotify em todo o mundo. Criado em 2009, foi crescendo em popularidade e tanto teve como convidados o cientista Neil DeGrasse Tyson quanto o promotor de teorias da conspiração Alex Jones, o denunciante ex-CIA Edward Snowden ou o dono da Tesla e do X Elon Musk. Com uma audiência muito masculina, cada episódio tem uma média de 11 milhões de ouvintes. Segundo várias fontes, continua a ser o mais ouvido dos Estados Unidos e na área da música, só para citar alguns exemplos, contou nos últimos anos com a presença de Reggie Watts, The Black Keys, Post Malone, Maynard James Keenan ou Myley Cyrus.

Mitchell e Young foram apenas alguns dos nomes que se opuseram à mensagem de Rogan sobre as vacinas contra a covid-19, juntando as suas conhecidas vozes às de centenas de cientistas e profissionais de saúde. Na altura, o Spotify puxou dos galões de policiamento de conteúdo potencialmente danoso “retirámos cerca de 20 mil episódios relacionados com covid-19 desde o início da pandemia”, disseram em comunicado — mas isso não impediu que uma carta aberta de mais de 270 especialistas criticasse o papel da plataforma na propagação de tal informação falsa.

Rogan chegou mesmo a aconselhar os jovens saudáveis a não se vacinarem. Mitchell e Young, ambos canadianos, ajudaram a amplificar o protesto contra o seu papel desinformador. Mais tarde, com cotação das acções do Spotify a cair em bolsa e uma acesa polémica transfronteiriça em curso, Rogan ensaiou uma espécie de pedido de desculpas e prometeu “equilibrar as coisas no futuro” em termos de opiniões sobre temas como a saúde pública.

Como cita o diário britânico The Guardian, Neil Young não voltou ao Spotify sem deixar algumas farpas. “Espero que todos vocês, milhões de utilizadores do Spotify, gostem das minhas músicas! Agora, todas elas estarão lá para vós, excepto no que toca ao som completo que criámos”, disse, atacando a falta de qualidade do som da plataforma.

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