Ex-deputados homenageiam heróis de Abril e lançam propostas para proteger democracia
A Associação de Ex-Deputados à Assembleia da República foi fundada em 2003 e é actualmente presidida pelo ex-deputado socialista Jorge Lacão.
A Associação de Ex-Deputados à Assembleia da República (AEDAR) irá homenagear alguns dos protagonistas da Revolução dos Cravos, à luz das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, e preparar uma “posição” sobre medidas a adoptar para “proteger a democracia”. A homenagem decorre esta sexta-feira, no auditório da Associação 25 de Abril e já tem casa cheia. O almoço e conferência terão como tema “O movimento dos Capitães de Abril na preparação do 25 de Abril” e a conversa será conduzida por Vasco Lourenço, ex-militar e membro da comissão política do Movimento das Forças Armadas (MFA).
O encontro será assinalado pelo lançamento de uma serigrafia de António Colaço, evocativa dos 50 anos do 25 de Abril. “A serigrafia tem um valor simbólico. Inclui uma fotografia de Salgueiro Maia, tirada no 25 de Abril, no dia da Revolução, pelo fotojornalista Eduardo Gageiro” ― que também deverá estar presente no encontro de sexta-feira ― explica ao PÚBLICO Jorge Lacão, presidente da Associação de Ex-Deputados à Assembleia da República. Entre as figuras presentes estará Natércia Maia, viúva do capitão Salgueiro Maia. Eduardo Ferro Rodrigues, ex-presidente da Assembleia da República, também estará na cerimónia.
O artista e ex-assessor parlamentar do PS António Colaço tem também o seu nome gravado na história da revolução como um dos militares que participou na tomada das instalações da RTP. “Cinquenta anos depois, aqui estou com o privilégio outro de, com a minha escrita transfigurada, homenagear, por um lado, a espantosa coragem, assim assumida, dos jovens militares de então”, resume António Colaço. O antigo militar e artista vinca, no entanto, que “ainda falta fazer Abril” e que, enquanto houver portugueses que não se sintam capazes de pronunciar em pleno “a paz, o pão, a saúde, a habitação”, então não é possível descansar.
O encontro integra uma série de iniciativas da associação que assinalam o “meio século de liberdade” e o “processo de construção, no aprofundamento de uma identidade que hoje se diz europeia e atlântica, ibérica mas universalista”, num “total contraste” com os tempos da ditadura e da apologia ao “país orgulhosamente só, enredado numa guerra colonial sem futuro e responsável por uma vida social vivida na obscuridade e no medo”, descreve Jorge Lacão.
“A História confirmou a decisão dos Capitães de Abril no derrube da ditadura”, resume Jorge Lacão. “Salgueiro Maia é uma figura central e emblemática do Movimento dos Capitães e da decisão de devolver ao povo a liberdade, a voz e a decisão democráticas. Valorizar o seu exemplo é não só honrar um momento da História que nos orgulha, como assumir que o seu legado, por meios inteiramente democráticos, deve prosseguir nas mãos das novas gerações”, justifica.
Portugal: antes e depois da revolução
Além desta homenagem, a associação tem já mais duas conferências preparadas para Abril. A primeira conferência será realizada no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) e dedicar-se-á à transparência no exercício da actividade política. Embora a data “ainda esteja a ser fechada”, o programa já está definido e divide-se em dois painéis.
O primeiro painel será dedicado ao “financiamento da actividade política e controlo de rendimentos e incompatibilidades de titulares de cargos políticos”, com as intervenções de Jorge Lacão, ex-deputado do PS e presidente da AEDAR, e André Coelho Lima, ex-deputado do PSD. A segunda parte será dedicada ao “código de conduta regulamentação do lobby” e terá as intervenções dos antigos deputados socialistas Constança Urbano de Sousa e Paulo Trigo Pereira.
A segunda conferência está agendada para 26 de Abril e realizar-se-á na Assembleia da República, sob o mote “O Antes e Depois do 25 de Abril”. A primeira parte contará com o historiador, co-fundador do Bloco de Esquerda e ex-deputado Fernando Rosas “para debater o Portugal no antes do 25 de Abril” e com a historiadora Irene Flunser Pimentel para debater o país depois da revolução. O segundo painel terá a politóloga e directora ICS-UL, Marina Costa Lobo, e o ex-ministro da Educação Eduardo Marçal Grilo e tem como mote “Que Futuro para o Portugal do presente?”.
“Nesse dia iremos divulgar um documento no qual tomamos posição sobre um conjunto de matérias que consideramos importantes para a protecção da democracia”, antecipa Jorge Lacão. Em cima da mesa estarão três prioridades: a reforma do sistema político, o sistema de justiça e a segurança. “O documento irá identificar os problemas mais evidentes e em alguns casos apresentar propostas” sobre “temas de soberania e Estado de direito que são essenciais para quem tiver ambição de ter uma democracia com qualidade”.