Os arquitectos do Masslab vão transformar a ETAR de Bragança num espaço cultural (sem cheiros)
O projecto é do escritório de arquitectura Masslab e mostra a cobertura da ETAR tapada com vegetação para reduzir o cheiro. O telhado será também convertido em espaço de lazer.
A ideia de renovar a estação de tratamento de águas residuais de Bragança nasceu de um pedido recorrente dos habitantes. Queixavam-se dos odores normais de uma ETAR, um incómodo que se mantinha quando visitavam o castelo da região, que fica a escassos metros desta infra-estrutura, explica ao P3 Duarte Ramalho Fontes, um dos arquitectos responsáveis pelo projecto.
O descontentamento chegou até ao escritório de arquitectura Masslab, sediado no Porto, que ficou também a saber que a autarquia de Bragança tinha lançado um concurso público para resolver os problemas com o cheiro e integrar a infra-estrutura na paisagem envolvente.
O projecto que enviaram à câmara, e que lhes permitiu ganhar o respectivo concurso, mostra uma cobertura ajardinada e semiaberta que cobre a estação de tratamento de águas. A preencher este espaço vazio de betão reciclado estarão as árvores daquela zona que, além da parte estética, vão ajudar a pulverizar o ar.
Resolvido o problema do odor, adianta Duarte Ramalho Fontes, o telhado pode também “ser utilizado como espaço lúdico, cultural ou performativo”, como mostram as imagens 3D.
“O objectivo era tornar o espaço poroso e interactivo, mas não queremos definir sozinhos o programa de cada um dos espaços da cobertura. A ideia é trazer outras pessoas da região para activar este espaço que antes era um vazio na paisagem”, acrescenta.
As fotografias mostram um telhado feito de rectângulos, uns totalmente tapados com vegetação e outros ao descoberto que os habitantes poderão utilizar como entenderem. A ligar cada uma destas zonas, incluindo a ETAR ao rio Fervença, estarão percursos pedonais e miradouros. E mais acima ficará, claro, o Castelo de Bragança.
Segundo o arquitecto, o escritório está neste momento a agendar com a câmara municipal a data de início das obras que representam um investimento de cerca de três milhões de euros. O betão foi escolhido por ser um material simples capaz de se misturar com a paisagem, e o facto de ser reciclado, assume, “é uma forma de reduzir a pegada de dióxido de carbono”.
“No fundo, trata-se de uma intervenção simples e delicada com a paisagem. Interessa preservar o monumento histórico, mas também é importante ter sensibilidade e enquadramento ao construir uma infra-estrutura necessária como uma estação de tratamento de águas”, afirma.
Para Duarte Ramalho Fontes, integrar elementos naturais como árvores, plantas ou hortas urbanas na arquitectura é uma forma de “preservar a relação ancestral” com a natureza e “um dos mantras” do atelier. A renovação da ETAR, diz, evidencia esta simbiose e mostra ainda que, afinal, “é possível pensar em estruturas que têm um grande impacto de forma mais cuidada”.
Só em 2023, o Masslab foi o atelier vencedor de sete concursos de arquitectura, incluindo um internacional, com um projecto que vai transformar um armazém industrial num edifício com escritórios, lojas e hotel na Finlândia.