Novos peixes estão a invadir o mar Adriático e a ameaçar as espécies locais

As águas do Adriático estão a ficar mais quentes por causa das alterações climáticas. Chegaram novos peixes e os que dali eram nativos estão a ficar ameaçados.

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Peixes-leão (Pterois miles) nadam num tanque do Instituto de Biologia Marinha em Montenegro Stevo Vasiljevic/REUTERS
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Um caranguejo-azul (Callinectes sapidus), nativo das águas do Oceano Atlântico ocidental e do Golfo do México, no Montenegro Stevo Vasiljevic/REUTERS
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Há décadas que o pescador croata Marko Kristic lança as suas redes nas águas cintilantes do mar Adriático. Agora, uma invasão de peixe-papagaio do Mediterrâneo está a pôr em perigo a sua captura tradicional e o seu próprio sustento, afirma.

Devido às alterações climáticas e ao aumento do tráfego marítimo, o peixe-papagaio, juntamente com cerca de 50 novas espécies, espalhou-se pelo Adriático, ameaçando a população de peixes nativos.

Kristic disse que o peixe-papagaio foi avistado pela primeira vez no sul do Adriático há cerca de 15 anos, mas desde então tornou-se uma captura acessória (não desejada) comum nas suas redes.

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O pescador Marko Krstic segura um peixe-papagaio do Mediterrâneo em Molunat, na Croácia Antonio Bronic/REUTERS

Embora seja apreciado como uma iguaria nas regiões de onde é nativo, o peixe-papagaio não é do agrado dos habitantes da sua aldeia de Molunat, no sul da Croácia.

"Não o posso vender a ninguém. A população local não vai comer este novo peixe", disse Kristic.

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As espécies invasoras estão a criar problemas nos ecossistemas e também na pesca Antonio Bronic/REUTERS

"O Adriático está a mudar"

Nenad Antolovic, investigador do Instituto de Investigação Marinha e Costeira de Dubrovnik, afirma que as populações de peixes no Adriático, o braço mais a norte do Mediterrâneo, sofreram uma redução devido à sobrepesca, às alterações climáticas e à invasão de novas espécies.

"O Adriático está a mudar, está a ficar mais quente. Por esse motivo, surgem novos organismos. Refiro-me a peixes, plânctones e algas", explicou Antolovic.

De acordo com os dados de 2023 da Agência Nacional Italiana para as Novas Tecnologias, Energia e Desenvolvimento Económico Sustentável (ENEA), o Mediterrâneo está a tornar-se o mar que mais rapidamente aquece no planeta.

Novas espécies de peixes chegaram ao Mediterrâneo e ao Adriático a partir do mar Vermelho, através do canal de Suez, devido ao aquecimento das águas ou transportadas nos tanques de lastro dos navios, pondo em perigo a sobrevivência de cerca de 460 espécies de peixes nativos, disse Antolovic.

Alguns dos novos peixes são perigosos para os seres humanos, como o venenoso peixe-leão ou o peixe-pedra.

No mês passado, um pescador da zona de Dubrovnik apanhou um peixe Tetragonurus cuvieri, um habitante das profundezas do mar, pouco comum no Adriático.

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Um caranguejo-azul (Callinectes sapidus) Stevo Vasiljevic/REUTERS

No vizinho Montenegro, os cientistas do Instituto de Biologia Marinha da cidade costeira de Kotor apontaram o caranguejo-azul como um exemplo de espécie invasora.

"Chegou há cerca de 20 anos e é uma das piores espécies invasoras do Mediterrâneo", disse o cientista Olivera Markovic.

Os pescadores e os cientistas afirmam que as unidades populacionais de crustáceos, como o caranguejo-verde, foram reduzidas e, nalguns locais, totalmente dizimadas.

"A população de caranguejo-verde foi drasticamente reduzida desde o aparecimento do caranguejo-azul", disse Markovic.

O peixe-coelho, o peixe-balão e o peixe-leão estão a prosperar nas águas mais quentes do Adriático, ao longo da costa montenegrina, disse Ilija Cetkovic, investigador do instituto.

A maior preocupação é o peixe-leão. "(O peixe-leão) é actualmente o problema mais premente... é predador e causa danos consideráveis aos ecossistemas", disse Cetkovic.

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