Prémios Ruth Bader Ginsburg cancelados após nomeações de Elon Musk e Ruport Murdoch

Filhos da antiga juíza do Supremo Tribunal dos EUA, uma conhecida defensora de causas progressistas, consideraram as nomeações “uma afronta” à memória da sua mãe.

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Ginsburg, nomeada para o Supremo Tribunal dos EUA em 1993, morreu em Setembro de 2020, aos 87 anos Reuters/Jonathan Ernst
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A fundação que promove a entrega de um prémio em nome da antiga juíza norte-americana Ruth Bader Ginsburg — conhecida pelas iniciais RBG e um ícone do feminismo nos Estados Unidos durante as três décadas em que esteve no Supremo Tribunal dos EUA, até à sua morte, em 2020 — anunciou o cancelamento de uma cerimónia que iria distinguir as carreiras do empresário Elon Musk e do barão dos media Rupert Murdoch.

Musk, o proprietário das empresas Tesla e SpaceX e também da rede social X (o antigo Twitter) — onde costuma partilhar mensagens críticas do feminismo e de outras causas progressistas — foi seleccionado, pela Fundação Opperman, para receber o Prémio RBG de Liderança na categoria de empreendedorismo.

Murdoch, o fundador do canal de televisão Fox News, que aceitou pagar uma compensação de quase 800 milhões de dólares a uma empresa de voto electrónico nos EUA, em 2023, por difamação e promoção de queixas infundadas de fraude eleitoral após a eleição presidencial de 2020 — e que desvalorizou, em 2017, uma série de denúncias de assédio sexual na estação —, iria receber o prémio na categoria de media.

Além dos dois empresários, os organizadores do Prémio RBG de Liderança decidiram distinguir, este ano, o actor Sylvester Stallone, como ícone cultural; o financeiro norte-americano Michael Milken, pelo seu filantropismo; e a estrela da televisão Martha Stewart, na categoria de liderança empresarial.

Em 1990, Milken foi condenado a dez anos de prisão e ao pagamento de uma multa de 600 milhões de dólares por várias acusações de fraude — uma pena mais tarde reduzida para dois anos de prisão, dos quais o financeiro cumpriu 22 meses. Em 2020, Milken recebeu um perdão total do então Presidente dos EUA, Donald Trump.

As nomeações deste ano suscitaram fortes críticas da família da juíza Ginsburg, cuja intenção inicial, ao instituir um prémio com o seu nome, em 2019, foi a de distinguir mulheres que se destaquem em cargos de liderança nas mais diversas áreas da sociedade norte-americana. (O prémio, cuja designação oficial é Ruth Bader Ginsburg Leadership Award, começou por se chamar Ruth Bader Ginsburg Woman of Leadership Award.)

No último fim-de-semana, um dos filhos de Ginsburg, James Steven Ginsburg, exigiu que a Fundação Opperman voltasse atrás nas suas escolhas, referindo-se à lista de nomeados como "um acto de profanação" da memória da sua mãe.

"Quando penso em como criar uma sociedade mais justa — aquele que era, no fundo, o principal objectivo da minha mãe —, estes nomes estão entre os últimos de que me lembraria", disse James Ginsburg numa entrevista à CNN.

Num comunicado, a outra filha de Ginsburg, Jane C. Ginsburg, disse que a lista de nomeados deste ano "é uma afronta" à memória da sua mãe.

"A família quer deixar claro que não aprova o uso do nome da sua mãe para distinguir a presente lista de nomeados e que não teve qualquer participação nas escolhas", disse Jane Ginsburg.

A cantora e actriz Barbra Streisand, distinguida em 2023, juntou-se às críticas da família Ginsburg numa mensagem publicada na rede social Instagram: "Eu tive o privilégio de me encontrar com a juíza Ginsburg em várias ocasiões, e duvido muito que ela aprovasse estes nomeados."

Num comunicado em que anuncia o cancelamento da gala para a atribuição dos prémios, que estava agendada para Abril, a presidente da Fundação Opperman, Jullie Opperman, defende a sua decisão de incluir homens na lista de nomeados, o que aconteceu pela primeira vez.

Ao mesmo tempo, a responsável disse que a sua fundação "não está interessada em criar controvérsia" e adiantou que o modelo do prémio "irá ser reavaliado nos próximos meses", deixando aberta a hipótese de se afastar da iniciativa.

"Importa salientar que a última coisa que queríamos fazer era ofender a família e os amigos de RBG", disse a presidente da fundação no comunicado. "O nosso objectivo foi sempre o de recordar e honrar a sua memória."

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