Três em cada quatro famílias portuguesas têm dificuldade em pagar as contas

Custos da habitação são os que mais aperto provocam aos portugueses. Dos 75% com dificuldades em saldar as contas, 7% estão em situação crítica. Maiores dificuldades sentem-se no Alentejo e Centro.

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As despesas com mobilidade, saúde e alimentação melhoraram, mas a inflação "continua a afectar negativamente um número considerável de portugueses" Daniel Rocha
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Três em cada quatro famílias tiveram dificuldade em pagar as contas em 2023, segundo o barómetro anual Deco Proteste, que destaca a habitação como "factor-chave no aperto financeiro" e o Alentejo e Centro como as regiões com mais dificuldades.

Destinado a medir a capacidade de as famílias portuguesas pagarem as despesas do dia-a-dia em seis áreas — alimentação, educação, habitação, lazer, mobilidade e saúde —, o barómetro inquiriu perto de 7000 pessoas, tendo 75% admitido ter dificuldades para saldar as suas contas e encontrando-se 7% em "situação crítica". "A crise habitacional emerge como um dos principais factores no aperto financeiro das famílias portuguesas, suprimindo qualquer alívio proporcionado pela descida da inflação", destaca a Deco Proteste.

Apontando o aumento das taxas de juro como "uma das razões pelas quais quase 28% das famílias enfrentam dificuldades para pagar os seus empréstimos bancários", a associação de defesa dos consumidores nota que "também o valor das rendas contribuiu para as dificuldades sentidas", com 23% dos inquilinos a "lutar para cumprir o pagamento das rendas das suas habitações".

Embora as despesas com mobilidade, saúde e alimentação tenham melhorado, o barómetro indica que a inflação "continua a afectar negativamente um número considerável de portugueses": cerca de um terço (31%) das famílias revela sentir "muito mais" dificuldades em pagar despesas essenciais, enquanto 4% afirmam que é uma "missão impossível" e apenas uma minoria (6%) não sentiu o impacto da subida dos preços dos bens.

As famílias monoparentais e numerosas, assim como aquelas em que um dos membros está desempregado, destacam-se como as que apresentam mais dificuldades, sendo que, no caso das famílias monoparentais, os dados disponíveis referem que "são cerca de 75.000 as que em Portugal enfrentam uma situação de pobreza extrema". Numa análise por regiões, o Alentejo e Centro são apontadas como aquelas onde se vive com mais dificuldade, sendo Castelo Branco o distrito em pior situação e Bragança onde se vive "com maior desafogo".

Tendo por base os resultados do inquérito, a associação conclui que "as perspectivas dos portugueses para os demais meses de 2024 não são optimistas" e prevê "um aumento das dificuldades financeiras no actual contexto de inflação e de incerteza sobre a evolução das taxas de juro do crédito à habitação".

A alimentação (carne, peixe, vegetais e fruta, etc.), as contas da casa (gás, electricidade e água, etc.) e a saúde são as despesas onde segundo a Deco Proteste, se esperam maiores aumentos. Em 2023, no ranking das 10 despesas que mais aumentaram, surgiram a renda da casa (mais 11% face a 2022), restaurantes (+7%), empréstimo (+6%), férias grandes (+6%), livros e streaming (+4%), educação superior (+4%), concertos, teatro, cinema, museus (+4%), actividades desportivas (+4%), saúde (+4%) e vegetais e fruta (+4%).

O inquérito da Deco Proteste foi realizado entre Dezembro de 2023 e Fevereiro de 2024, tendo sido recolhidas 6734 respostas válidas. De forma a reflectirem a realidade do universo das famílias portuguesas, os dados foram ponderados por idade, género, região e habilitações literárias.