Alterações climáticas estimulam propagação de doenças infecciosas

As alterações climáticas podem contribuir para propagar doenças infecciosas, como a malária. Os médicos “precisam de estar preparados para lidar com mudanças neste panorama”, dizem investigadores.

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As doenças infecciosas, como a dengue e a malária e o vírus Zika, podem ser provocadas por vírus, bactérias, fungos ou parasitas ISAAC FONANA/EPA
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Uma equipa de especialistas alertou nesta quarta-feira para o aparecimento de agentes patogénicos nocivos, apelando a uma maior sensibilização e preparação da medicina para lidar com o impacto das alterações climáticas na propagação de doenças.

Os autores do estudo, publicado no The Journal of the American Medical Association (JAMA), apelaram também à comunidade médica para actualizar a sua formação e tomar medidas para combater o aquecimento global.

"Os médicos precisam de estar preparados para lidar com as mudanças no panorama das doenças infecciosas", afirmou George R. Thompson, autor principal do texto. Além disso, realçou que "aprender sobre a ligação entre as alterações climáticas e o comportamento das doenças pode ajudar a orientar o diagnóstico, o tratamento e a prevenção de doenças infecciosas".

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A dengue é uma doença infecciosa transmitida por um mosquito. Nos últimos anos, os números de infeções por dengue têm aumentado em Portugal, segundo a DGS Agustin Marcarian / REUTERS

De acordo com o também professor de medicina na Universidade da Califórnia, os médicos devem manter "um elevado índice de suspeita de doenças em movimento". "Penso que, com a melhoria da nossa compreensão da doença, haverá mais testes e, dessa forma, teremos menos casos", referiu o especialista em doenças infecciosas, microbiologia e imunologia médica.

As doenças infecciosas podem ser provocadas por vírus, bactérias, fungos ou parasitas, sendo muitas delas transmitidas de animais para humanos ou entre humanos. Entre as doenças infecciosas, salientam, estão as doenças transmitidas por vectores (mosquitos, pulgas e carraças), como a dengue, a malária e o vírus Zika.

A alteração dos padrões de precipitação está a aumentar o alcance dos vectores e os seus períodos de actividade, segundo o estudo. Invernos mais curtos e quentes e Verões mais longos estão também associados a um maior número doenças transmitidas por vectores.

Mais mosquitos, mais carraças

"Estamos a assistir a casos de doenças transmitidas por carraças em Janeiro e Fevereiro", observou Matthew Phillips, autor do estudo e investigador de doenças infecciosas no Massachusetts General Hospital e na Harvard Medical School.

O investigador lembrou que "a época das carraças começa mais cedo e com mais carraças activas numa área mais vasta". "O número de picadas de carraças está a aumentar e, com ele, as doenças transmitidas por carraças", indicou.

Também os mosquitos que transmitem a malária estão a expandir-se para norte devido às alterações climáticas. A alteração dos padrões de precipitação conduziu a um maior número de mosquitos e a uma maior taxa de transmissão da doença.

"Uma das coisas mais assustadoras que aconteceram no Verão passado foram os casos de malária adquiridos localmente [nos Estados Unidos]. Vimos casos no Texas e na Florida e depois a norte, em Maryland, o que foi realmente surpreendente. Aconteceu com pessoas que não viajaram para fora dos Estados Unidos", recordou Matthew Phillips.

As alterações nos padrões de precipitação e na temperatura da água costeira também podem afectar a propagação de doenças transmitidas pela água, como a E. coli e o vibrião colérico.

O estudo apontou também para o aparecimento de novas infecções fúngicas, como a Candida auris (C. auris), e para alterações na localização de alguns agentes patogénicos fúngicos. Os especialistas recordaram que, nos últimos anos, as doenças infecciosas, como a covid-19, tiveram um enorme impacto no mundo.

"Podem surgir e causar o caos absoluto em todo o mundo e depois esquecemo-las durante algum tempo. No entanto, o potencial epidémico e pandémico das infecções exige que nos mantenhamos envolvidos com as agências federais de financiamento e os grupos consultivos, para garantir que as doenças infecciosas não voltem a passar despercebidas ao público", explicou George R. Thompson.

A equipa acrescentou que devem ser implementadas medidas mais robustas para vigiar as doenças infecciosas e instou os educadores médicos a formarem os clínicos para anteciparem as alterações nos padrões.