Músico que dirige escola Artave há mais de 40 anos foi suspenso

José Alexandre Reis dirige a Escola Profissional Artística do Vale do Ave desde a sua fundação. Padre diz que há denúncias que “contrariam a cultura do cuidado e protecção” nas instituições jesuítas.

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A decisão foi tomada após denúncias de alunos, pais e professores Anna Costa (arquivo)
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O director da Artave – Escola Profissional Artística do Vale do Ave, José Alexandre Reis, que dirige a instituição desde a sua fundação, ou seja, há 44 anos, foi suspenso preventivamente na última semana pela direcção da entidade que detém a escola, presidida por um padre jesuíta, que diz estar a avaliar “a cultura institucional” ali vivida, num email enviado à comunidade educativa.

José Alexandre Reis também foi afastado provisoriamente do cargo de director pedagógico do Centro de Cultura Musical – Conservatório Regional de Música, que serve a região do Ave, em particular os concelhos de Santo Tirso e Vila Nova de Famalicão, onde tem instalações. As duas entidades estão há muito ligadas, sendo a última detida por uma instituição jesuíta. Já a Artave é propriedade de uma associação, onde esta instituição jesuíta tem um papel preponderante.

No email a que o PÚBLICO teve acesso, assinado pelo presidente da entidade que detém a Artave, o padre António Valério (que dirige igualmente o Centro de Cultura Musical) diz que as duas direcções “tiveram conhecimento de um relatório que lhes foi enviado pela coordenadora do Serviço de Protecção e Cuidado (SPC)” da Companhia de Jesus, “no qual se descrevem factos que contrariam a cultura do cuidado e protecção que tem vindo a ser traçada para todas as organizações jesuítas”.

A mensagem de correio electrónico adianta que não há “nenhum indício da prática de comportamentos de natureza criminal ou de abuso sexual” e que os factos denunciados “não põem de forma alguma em causa o reconhecimento da excelência artística das duas escolas”.

Sem concretizar o que está em causa, o padre jesuíta diz que foi determinada a abertura de um inquérito disciplinar a José Alexandre Reis – que não quis falar com o PÚBLICO – e que, para que este “decorra com celeridade e com desejada normalidade”, deliberou-se ainda a sua suspensão preventiva das duas instituições.

Questionado pelo PÚBLICO, António Valério afirma, numa resposta escrita, que o relatório “recolheu denúncias feitas ao longo de vários meses por alunos, pais e professores que descrevem factos que contrariam a cultura do cuidado e protecção que se deseja para uma instituição de ensino da Companhia de Jesus”, recusando identificar os factos que estão a ser objecto de averiguação.

Sobre o que motivou a aplicação da medida cautelar mais gravosa, o padre jesuíta explica que se baseia na convicção de que, sendo José Alexandre Reis ​alvo das denúncias, “a sua presença na escola é inconveniente para a averiguação desses factos”.

António Valério garante ainda que a abertura do inquérito e a suspensão do director da Artave foi aprovada “por maioria, apenas com um voto contra”, na direcção da entidade que detém a escola, na qual estão representados os autarcas de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso e a Fundação Cupertino de Miranda.

O padre jesuíta que dirige actualmente o Colégio das Caldinhas, também associado da Artave, “nega liminarmente” qualquer relação entre este inquérito disciplinar e o facto de José Alexandre Reis ter sido ouvido há poucas semanas, na qualidade de testemunha, num inquérito-crime que visa o antigo líder dos jesuítas, José Frazão, e mais dois padres da mesma ordem.

Nesse inquérito, está em causa a alegada tentativa de desviar um valor superior a dois milhões de euros amealhado ao longo de vários anos e destinado à construção de novas instalações para o pólo de Famalicão do Centro de Cultura Musical, que seriam partilhadas com a Artave.

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