Leitão diz que PS deve governar se ficar à frente. Em 2015, partido criticou Cavaco por perder tempo
Quando o então Presidente da República indigitou Passos Coelho como primeiro-ministro e deu posse ao seu (breve) segundo executivo, o PS criticou Cavaco Silva por estar a perder tempo.
A dirigente socialista Alexandra Leitão afirmou neste domingo que se o PS tiver mais mandatos do que a Aliança Democrática (AD) ou, em caso de empate, mais votos do que a coligação, então devem ser os socialistas a formar governo. Uma afirmação que difere da posição assumida pela maior parte dos socialistas em 2015, quando o então Presidente da República decidiu indigitar Passos Coelho como primeiro-ministro e dar posse a um executivo sabendo de antemão que a esquerda o derrubaria.
Na noite eleitoral de 10 de Março, o secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, assumiu a derrota do partido. E disse que, doravante, cabe ao PS liderar a oposição. No entanto, os resultados provisórios foram menos clarificadores do que se chegou a antecipar e os quatro mandatos da emigração ainda por atribuir – que serão conhecidos no dia 20 – podem baralhar as contas sobre quem tem mais mandatos ou maior percentagem de votos.
Nesta fase, a AD soma 79 mandatos e o PS 77 e como o PÚBLICO já noticiou, para o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa o que conta para decidir quem indigitará como líder do próximo governo é o somatório de deputados de PSD e CDS e não cada uma dessas bancadas isoladamente.
Perante este cenário, Alexandra Leitão, dirigente socialista do núcleo duro de Pedro Nuno Santos e que foi responsável por coordenar o programa eleitoral socialista, defendeu, no programa Princípio da Incerteza, na CNN, que “se o PS, depois da contagem dos votos das comunidades portuguesas, tiver mais mandatos ou, em caso de empate, mais votos do que a AD, então deverá governar”.
Admitindo como “altamente improvável” que tal cenário se concretize, Alexandra Leitão enquadrou esta posição considerando que, nesse caso, “o Presidente da República deveria chamar a formar governo o PS e a direita ficar com o ónus, aliás, juntamente com o Chega, de deitar abaixo o governo do PS”.
Ainda que o presidente do PSD e líder da AD, Luís Montenegro, nunca tenha clarificado se viabilizaria um governo minoritário do PS, esta declaração de Alexandra Leitão pressupõe a convicção de que, dada a maioria de direita no Parlamento, PSD, Chega, IL e CDS aprovariam uma moção de rejeição a um executivo chefiado por Pedro Nuno Santos.
Por outro lado, traduz uma diferença relativamente às posições assumidas em 2015 por figuras do PS quando Cavaco Silva indigitou Passos Coelho e empossou um Governo que durou apenas 29 dias. Nas legislativas desse ano, o PSD elegeu um grupo parlamentar maior do que o do PS.
A poucos dias do segundo executivo de Passos tomar posse, Carlos César, já na altura presidente do PS, criticava a “demora” do então líder do PSD, já indigitado primeiro-ministro, em revelar a composição do governo “e apresentar a apreciação do programa do Governo”. Já numa crítica extensível a Cavaco Silva, César dizia ser tempo de “passar adiante” e defendia que o país “não pode perder tanto tempo”.
Também o então deputado socialista João Soares se insurgiu contra a “estranha” decisão de Cavaco, que fazia “o país perder tempo”, porque “aquele que foi nomeado futuro primeiro-ministro vai cair nesta Assembleia da República”, afirmava. “Vai ser preciso chamar alguém que esteja em condições de assegurar um governo estável e duradouro em termos de apoio parlamentar”, prosseguia, numa altura em que decorriam negociações à esquerda com vista aos acordos parlamentares bilaterais que o PS assinaria com Bloco, PCP e PEV.
João Soares criticava ainda Cavaco Silva por não ser coerente, uma vez que, apesar de defender uma solução de governo estável e duradoura, acabou por dar posse a um executivo com tão limitada data de validade. “Introduz um factor de complexidade numa situação que já era complexa (…). Inevitavelmente, Passos Coelho vai cair”, dizia.