Israel nega autorização de entrada em Gaza a chefe da UNRWA

Philippe Lazzarini tinha preparada uma ida ao território através de Rafah, no Egipto, mas recebeu a informação de que a sua entrada tinha sido declinada.

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Philippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA Reuters/Mohamed Abd El Ghany
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As autoridades israelitas negaram, pela primeira vez, autorização de entrada na Faixa de Gaza ao chefe da UNRWA, a agência da ONU que apoia os refugiados palestinianos, Philippe Lazzarini.

Lazzarini tinha preparada uma ida ao território através de Rafah, no Egipto, mas recebeu a informação de que a sua entrada tinha sido declinada, declarou numa conferência de imprensa com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Egipto, Sameh Shoukry, no Cairo.

Shoukry disse que a recusa do Governo de Israel era “uma acção sem precedentes” em relação a um representante com “este cargo alto”.

A UNRWA é a maior organização a prestar ajuda humanitária em Gaza, onde a dimensão da crise humanitária foi sublinhada esta segunda-feira, quando um relatório alertou para a fome iminente no Norte do país.

“No dia em que são divulgados novos dados sobre a fome em Gaza, as autoridades israelitas recusam a minha entrada” no território, escreveu Lazzarini na rede social X.

Esta é a primeira vez que o responsável vê negada permissão de entrada no território palestiniano, que visitou quatro vezes desde o início da guerra actual, e em muitas ocasiões antes disso desde que foi nomeado em 2020, disse à Reuters a responsável de comunicações da UNRWA Juliette Touma.

Israel acusou 12 funcionários da UNRWA, que emprega 13 mil pessoas em Gaza (num total de 30 mil em cinco zonas de operação – além de Gaza, a Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria), de envolvimento no ataque do Hamas de 7 de Outubro, o que levou vários países a suspender o financiamento à agência.

Alguns deles anunciaram entretanto que voltaram a dar verbas à agência, incluindo a Austrália, Canadá e Suécia.

Os Estados Unidos – que são o maior dador da agência – afirmaram, pelo seu lado, que esperariam pelas investigações da ONU, que nomeou uma comissão independente, liderada pela antiga ministra dos Negócios Estrangeiros de França Catherine Colonna, que prometeu um relatório interino até ao fim de Março e conclusões no final de Abril.

Em Dezembro, o então ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Eli Cohen, declarou no X que revogara o visto de residência da coordenadora “humanitária” (as aspas são de Cohen) da ONU Lynn Hastings acusando-a de não condenar o Hamas.

Israel tem vindo a recusar renovar vistos a uma série de estrangeiros a trabalhar para ONG no país, noticiou em Fevereiro o diário Haaretz. Uma alteração da responsabilidade das instituições encarregadas era dada como a principal razão para o que estava a acontecer, mas muitas das pessoas cujo visto foi rejeitado disseram suspeitar de “motivações políticas”.

O diário Le Monde publicou na semana passada um artigo sobre os problemas com vistos dizendo que até há pouco tempo os vistos para pessoas a trabalhar para organizações da ONU eram renovados por períodos de seis meses a um ano, e agora, nos casos em que há aprovação aos vistos (o que não acontece sempre), a renovação apenas é válida para mais dois meses, “por vezes menos”, disse Juliette Touma ao jornal francês, sublinhando que “é tudo muito aleatório”, o que “complica a resposta humanitária”.

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