Hot pot, a tendência que está a ferver

Nas últimas semanas, uma experiência gastronómica chinesa tem dominado as redes sociais. Conheça a história do hot pot e como este tem espicaçado a curiosidade dos mais novos.

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Hot pot no restaurante Huang Table, no Porto ADRIANO MIRANDA
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O ano novo chinês celebrou-se a 10 de Fevereiro. Essa é a altura em que a comunidade chinesa se junta para festejar a entrada de um novo ano e para confeccionar os mais variados pratos. No entanto, há um que nunca falta e que tem um grande valor sentimental e cultural, especialmente nessa altura do ano: o hot pot. Mas, claro, o prato, já estrela na net, está disponível a qualquer dia em restaurantes especializados, também em Portugal.

O hot pot pode ainda ser estranho para aqueles que estão mais afastados das redes sociais e que não têm como hábito o consumo de conteúdos asiáticos. Entre os mais jovens, a experiência tem-se normalizado e alguns já o tentam reproduzir em casa, com amigos e família, numa experiência que é conhecida por ser especialmente de grupo.

A Fugas não deixou passar do ponto e tentou conhecer a história do hot pot, visitando também o Huang Table, um dos únicos restaurantes no Porto que serve o hot pot tradicional chinês.

Como surgiu o hot pot?

O hot pot é uma experiência gastronómica nascida na China. De acordo com um artigo publicado na Tasting Table, a história da sua origem não é consensual e não se consegue traçar com certeza absoluta uma data de nascimento. Sabe-se que foi criado durante o Inverno, uma altura do ano bastante gélida em território chinês e que obrigava à confecção de refeições bem quentes, para se suportar o frio que se sentia. Na altura, o povo chinês tinha também pouca variedade de alimentos e cozinhava o que tinha à mão, tudo em conjunto, para que o prato fosse o mais saboroso e nutritivo possível.

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O Hot Pot ADRIANO MIRANDA

A história mais popular é ligada aos mongóis. Nas suas incursões, os exércitos mongóis cozinhavam nos seus capacetes, enchendo-os de água e cozendo os alimentos que iam encontrando. Era uma prática muito “livre” mas que permitia que se aquecessem e que tivessem uma refeição quente.

No entanto, o hot pot como o conhecemos popularizou-se durante o período dos Três Reinos (220-280), com o aparecimento da típica panela de cobre, com um caldo temperado, sempre a ferver. A experiência foi ganhando expressão ao longo dos tempos e existem também relatos que o imperador Qianlong (1735-1796) consumia hot pot quase todos os dias.

O hot pot começou a vulgarizar-se e a espalhar-se por todo o território asiático, ganhando diferentes variações. Diz-se que o formato original é o de Sichuan, com um caldo mais picante e maior foco numa experiência aromatizada, com várias especiarias, algo também comprovado pelo El Independiente, que procurou saber mais sobre a história deste atípico prato. Ao longo das décadas, foram surgindo vários estilos para todos os gostos. Existem seis tipos principais de hot pot mas, actualmente, as combinações são praticamente infindáveis. Há hot pot vegano, hot pot mais aromatizado, experiências para os amantes de carnes ou de marisco e peixe… É um prato muito livre e que pode ser adaptado a todos os paladares.

O que é o hot pot?

Com a história contada, falemos do prato em si. O hot pot tem um nome praticamente auto-explicativo: uma panela quente, basicamente. Coloca-se a panela no centro da mesa, em cima de uma fonte de calor constante, que ferve um caldo (ou mais) à escolha, cozinhando-se os alimentos aos poucos e ao gosto de cada um.

Esta é uma experiência gustativa e que deve ser feita em grupo. Os chineses têm por hábito consumir hot pot nas alturas em que a família está reunida. É um momento de comunhão, de partilha de histórias e de entreajuda, em que cada um participa activamente na preparação da refeição de cada interveniente. Aliás, com mais gente à mesa é também possível experimentar novos sabores e podem acontecer momentos caricatos.

É nesta motivação para experimentar o que é novo que o hot pot também brilha. Não há regras inflexíveis a seguir e as preferências de cada um são o que realmente importa. A panela permite que vários ingredientes sejam cozinhados ao mesmo tempo, tal como é possível experimentar diferentes caldos no mesmo utensílio, através do uso de divisórias.

Normalmente, o conjunto de ingredientes mais utilizado no hot pot contém carne cuidadosamente fatiada, vegetais, noodles, cogumelos e tofu. Dumplings, wontons e frutos do mar também são alguns dos mais usados. Cada ingrediente tem o seu tempo de cozedura, podendo ficar pronto para consumo em poucos segundos, como no caso da carne ou obrigando a um maior tempo no caldo, como alguns vegetais mais firmes. Uma coisa é certa: embora o hot pot seja uma actividade saborosa do início ao fim, o caldo vai enriquecendo ao longo da experiência, ficando cada vez mais rico à medida que os diferentes ingredientes são cozinhados em conjunto.

A experiência não fica por aqui. Se quiser consumir os alimentos directamente da panela, não há nenhum impedimento. No entanto, a opção de eleição passa pela criação de um molho de acompanhamento, que enriquece ainda mais o sabor da comida. Mais uma vez, cada um faz a gosto pessoal.

A prática do hot pot tem-se vulgarizado, levando a que várias pessoas experimentem o prato, em restaurante. No entanto, a cultura asiática refere que a melhor experiência é feita em casa, dada a natureza familiar desta tradição. Também o El País, no mês passado, preparou um artigo sobre como ter esta experiência no conforto de casa. Afinal, qual é a experiência derradeira?

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No restaurante Huang Table, no Porto ADRIANO MIRANDA

Em casa ou no restaurante?

A Fugas visitou um dos únicos sítios de hot pot chinês, o estilo original, no Porto. O restaurante Huang Table Barbecue & Hot Pot fica na Rua de Grijó, perto de Lordelo do Ouro.

O restaurante já está aberto há mais de um ano e meio e tem recebido diversos clientes, desde asiáticos a portugueses, de todas as idades. No início, a maior parte dos clientes eram chineses. No entretanto, foram surgindo cada vez mais pessoas curiosas e vários jovens interessados numa experiência diferente. Ruan, de 38 anos, é o gerente do estabelecimento e contou-nos um pouco da sua história.

“Já moro em Portugal há muitos anos e queria fazer algo diferente. Decidi abrir um estabelecimento de hot pot chinês e barbecue, uma vez que outras comidas asiáticas já estão demasiado normalizadas”, explicou. O restaurante é bastante acolhedor, com decoração típica e mesas preparadas para receber a famosa panela, sendo também possível degustar barbecue tradicional.

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O Hot Pot tem vindo a tornar-se tendência nas redes sociais ADRIANO MIRANDA

Segundo Ruan, a história do hot pot já tem mais de dois mil anos e existem várias versões, escritas em livros antigos. O proprietário não sabe qual é a verdadeira mas sabe que o prato surgiu pela necessidade de uma comida que aquecesse corpo e alma: “Nós, chineses, gostamos sempre da comida bem quentinha. E o hot pot nunca arrefece, fica sempre na mesa e pronto a comer. Cada um pode ir comendo ao seu ritmo e divertir-se em grupo.”

Ruan reforça que esta é uma experiência de grupo, que permite que todos participem na sua refeição. E qual é a melhor versão: em casa ou no restaurante? O gerente acredita que as duas são bastante diferentes. “Em casa é mais divertido porque se prepara tudo em conjunto. E fazes logo o que gostas mais. Mas acho que os molhos são melhores em restaurante, porque há mais variedade. O restaurante é um sítio onde é possível experimentar mais coisas”, entende Ruan.

É uma experiência livre e sem regras fixas. Todavia, Ruan defende que a refeição fica melhor com um molho para apurar melhor o paladar. Para os mais inexperientes, o restaurante também fornece acompanhamento: “Se o nosso cliente chegar aqui e é a primeira vez que experimenta, ou seja, não sabe fazer os molhos nem controlar os tempos de cozedura, nós ajudamos. Acho que é o melhor para este tipo de clientes, porque conseguem ter uma experiência mais saborosa e acompanhada.”

E porque é que esta experiência anda na moda? “Porque é diferente, acima de tudo. Depois, hoje em dia, são publicados vários conteúdos sobre todas as coisas na Internet. As outras pessoas conseguem ver e acham interessante e querem experimentar uma coisa nova. Principalmente os mais jovens”, diz Ruan.

Uma experiência diferente

Natalia Vásquez tem 20 anos e já visitou o Huang Table. Tal como muitos dos jovens, foi influenciada pelos conteúdos publicados nas redes sociais e em produtos culturais asiáticos.

“Eu conheci o hot pot pela primeira vez num drama coreano. Achei uma experiência muito interessante e muito diferente de qualquer coisa que já tinha feito e então, fiquei com essa ideia na cabeça. Acabei por ir pela primeira vez quando uma das minhas amigas também expressou interesse”, explica a jovem.

Natalia é originária da Colômbia e está em Portugal há três anos. O hot pot é uma experiência diferente e que nunca encontrou em nenhum dos dois países. O seu gosto por cozinhas internacionais motivou-a para experimentar o hot pot. “Acho muito bonito o facto de participares no que estás a comer. Porque também, quando vais com outras pessoas, torna-se um bocado num tópico de conversa porque as pessoas vão se ajudando e rindo do desempenho de cada um”, adiciona.

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No Porto, o Huang Table serve o tradicional Hot Pot Adriano Miranda

A experiência foi aprovada por Natalia, que julga que este é um “prato perfeito para o Inverno”. Elogia o atendimento, que sempre a guiou durante toda a experiência e tornou a degustação ainda mais especial.

A jovem também está ao corrente da popularidade do hot pot, que tem aparecido nas redes sociais, em especial no TikTok. “Acho que esta refeição entrou na moda junto dos mais jovens porque, na minha experiência, os mais jovens estão mais dispostos a experimentar coisas novas, especialmente no que trata de comida”, remata Natalia. Os mais velhos são mais relutantes a novas experiências e preferem a comida da sua cultura tradicional, segundo a mesma. Natalia também acredita que a maior abertura de mente a diferentes culturas é consequência de uma maior exposição dos jovens a conteúdos estrangeiros.

O que se sabe é que a popularidade do hot pot tem motivado miúdos e graúdos a experimentar algo diferente. Em casa ou no restaurante, o hot pot é um prato de grande liberdade e em que o palato é posto à prova.

Texto editado por Luís J. Santos

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