Morreu David Seidler, o argumentista de O Discurso do Rei
Vencedor do Óscar de melhor argumento original, o britânico radicado nos EUA morreu aos 86 anos de idade.
David Seidler, argumentista britânico que venceu o Óscar de melhor argumento original por O Discurso do Rei, morreu no sábado na Nova Zelândia, onde se encontrava de férias para pescar. A notícia da sua morte foi confirmada pelo seu agente, Jeff Aghassi. Tinha 86 anos de idade.
A história verídica da gaguez do rei Jorge VI, que teve de a ultrapassar quando ascendeu ao trono britânico após a abdicação do seu irmão, Eduardo VIII, em 1936, tornou-se num fenómeno de popularidade, com 12 nomeações para os prémios da Academia e quatro estatuetas — melhor filme, melhor actor para Colin Firth, melhor realizador (Tom Hooper) e melhor argumento original.
Foi a coroa de glória do argumentista nascido em Londres em 1937 e radicado nos Estados Unidos com a família ainda adolescente: ao longo da sua carreira trabalhou maioritariamente para televisão, e o seu único outro crédito importante no grande écrã foi em 1988, como co-argumentista de Tucker - o Homem e o Seu Sonho, de Francis Ford Coppola, pouco após se ter instalado em Hollywood.
O argumento de O Discurso do Rei reflectia a sua própria experiência pessoal: Seidler fora ele próprio gago na adolescência e era sua convicção que o problema de fala resultara dos traumas da guerra, e da sua viagem de barco de Inglaterra para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, num comboio marítimo onde um dos navios foi afundado por submarinos alemães.
A história do rei gago, ídolo da sua infância, foi um projecto que o argumentista alimentou durante décadas, obtendo inclusive autorização do filho de Lionel Logue, o terapeuta da fala que tratou o rei (interpretado no filme por Geoffrey Rush), para utilizar os seus diários, na condição da rainha-mãe Isabel, viúva de Jorge VI, autorizar a divulgação da história. Esta, contactada por Seidler, pediu-lhe que não avançasse com o projecto enquanto fosse viva, pelo que foi apenas em 2005, três anos depois da sua morte, que o argumentista iniciou finalmente trabalho.
Posteriormente, Seidler adaptou ainda o seu guião, premiado igualmente com o BAFTA da Academia Britânica, para uma peça de teatro que se estreou em 2012.