Exibidoras ponderam nova proposta, se imobiliária mantiver cinema Monumental

A Cinebox e a Cinetoscópio estão à espera de saber se a Merlin Properties encara a possibilidade de manutenção das salas com exibição cinematográfica, após a decisão do ministro da Cultura.

Foto
O cinema Monumental foi explorado, até 2019, pela Medeia Filmes ÂNGELA ANDRADE
Ouça este artigo
00:00
04:17

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

As exibidoras Cinebox e Cinetoscópio ponderam apresentar novamente uma proposta para explorar o cinema Monumental, em Lisboa, caso os proprietários mantenham as salas, disseram os responsáveis à agência Lusa.

"Estamos no ponto de partida. Depende de como a Merlin [Properties, a proprietária] quer encarar aquilo. Se eles tiverem vontade mesmo que aquilo seja cinema, então nós poderemos estar outra vez interessados", afirmou à agência Lusa o produtor e exibidor Luís Urbano, um dos sócios da Cinetoscópio.

Também João Caldeira, responsável pela Cinebox, manifestou à agência Lusa vontade de avançar com a proposta: "Diria que é preciso ter muita imaginação para que o espaço do Monumental seja algo que não cinema".

Na semana passada, o ministro da Cultura ainda em funções, Pedro Adão e Silva, assinou um despacho em que não autoriza a desafectação do cinema Monumental para outras actividades sem ser a exibição cinematográfica. Recomendando que "a decisão de desafectação seja objecto de ponderação especialmente cuidada", o ministro considera que "as salas de cinema são um bem escasso, que elas cumprem uma importante função cultural na vida pública e que não foram esgotadas as possibilidades de reactivação do Cinema Monumental".

O pedido de desafectação foi feito em 2023 pela imobiliária Merlin Properties, proprietária do edifício onde funcionaram, até 2019, as quatro salas do cinema Monumental. O edifício, maioritariamente de escritórios, foi alvo de reformulação e acolhe actualmente o banco BPI.

No despacho do Ministério da Cultura, lê-se que a imobiliária queria acolher o projecto educativo TUMO, um centro de tecnologias criativas lançado em Portugal pelo professor catedrático Pedro Santa-Clara, em regime de comodato até Junho de 2031, com a "cedência gratuita dos cinemas". O primeiro centro deste projecto educativo internacional foi lançado em Coimbra, mas a intenção é estendê-lo a outras cidades, nomeadamente Lisboa, com o apoio da câmara municipal e de várias instituições públicas e privadas.

Contactado pela agência Lusa, Pedro Santa-Clara disse esta segunda-feira que não comenta a decisão do Ministério da Cultura e que espera ter "notícias em breve" quanto a uma "alternativa de espaço" para o projecto TUMO.

Os responsáveis da Cinebox e da Cinetoscópio, que apresentaram propostas para exploração das salas, congratulam-se com a decisão do Ministério da Cultura, mas Luís Urbano lembra que havendo uma mudança de Governo, a imobiliária possivelmente pode apresentar novo pedido.

Contactada pela agência Lusa, a assessoria da Merlin Properties afirmou que "não tem nenhuma informação ou desenvolvimento a acrescentar sobre este tema".

"A bola não está do nosso lado. Tudo o que fizemos do ponto de vista de proposta pressupunha uma boa relação com o proprietário para entender ao detalhe o montante de investimento a ser feito", disse Luís Urbano. No caso da Cinebox, que explora a exibição comercial em Castelo Branco e está interessada em "recuperar salas de cinema em todo o país", a proposta era ter "um conceito de salas boutique", com cinema e restauração.

Em 2023, a pedido do Ministério da Cultura, a Inspecção-Geral das Actividades Culturais fez uma vistoria às salas e concluiu que "se encontram muito danificadas, não estando aptas a desenvolver actividade cinematográfica sem que se realizem obras de muito considerável dimensão".

Luís Urbano disse que "o investimento ainda é considerável e tem a ver com questões do ar condicionado e cumprimento de regras" de funcionamento, enquanto João Caldeira admitiu que "as salas estão em mau estado e completamente desactualizadas tecnologicamente".

A Cinebox especificou que para ter no cinema Monumental o conceito boutique são precisos cerca de três milhões de euros de investimento. "A Cinebox não recebe nem espera ser subsidiada para esse projecto que poderia ser importante para a divulgação e crescimento do cinema português ao lado de filmes de majors e distribuidores independentes", disse João Caldeira.

As quatro salas do cinema Monumental tiveram actividade até 2019 num edifício de comércio e escritórios inaugurado em 1993, no mesmo espaço onde antes tinha funcionado o antigo, e icónico na cidade, Cine-Teatro Monumental.

Actualmente, em Lisboa só existem três salas de exibição regular fora dos centros comerciais: o Cinema Ideal, no Chiado, reaberto pela Midas Filmes em 2014; o Cinema Nimas, explorado por Paulo Branco; e o City Alvalade, explorado pela exibidora Cinema City.

A demolição de recintos de cinema ou a sua afectação para outras actividades, que não a exibição cinematográfica, depende sempre de uma autorização do membro do Governo responsável pela área da Cultura.