Putin festeja maior vitória eleitoral de sempre na Rússia pós-soviética

Primeiros resultados das eleições presidenciais apontam para vitória esmagadora do chefe de Estado russo, depois de uma ida às urnas marcada por corajosos protestos simbólicos.

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Mesa de voto em na cidade ucraniana de Donetsk, anexada pela Rússia durante a invasão da Ucrânia EPA/STRINGER
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Num plebiscito sem garantias de justiça e de liberdade, realizado em plena guerra com a Ucrânia e na ausência de oposição real, Vladimir Putin foi reeleito Presidente da Federação Russa, cimentando ainda mais uma liderança política com quase 25 anos e garantindo que esta se prolonga pelo menos até 2030 (podendo estender-se a 2036).

Com perto de 25% dos votos contados, a Comissão Eleitoral dava conta de um resultado de 87,97% para o chefe de Estado, dados que confirmam as primeiras projecções, publicadas por duas empresas de sondagens. Suficiente para garantir a Putin a vitória mais expressiva de sempre na Rússia pós-soviética – o seu melhor resultado era, até agora, os já impressionantes 77,53% de 2008.

Especialmente elevada terá sido também a participação, estimada em 74,22%, que ultrapassou os 67,5% de há quatro anos.

Perto do final do terceiro dia e último dia de uma votação que começou na sexta-feira, dezenas de russos visitaram este domingo a campa de Alexei Navalny, o principal crítico e opositor de Putin, que morreu a 16 de Fevereiro numa prisão da Sibéria e foi enterrado no cemitério de Boriskovskoie, no Sudeste de Moscovo. Vídeos publicados nas redes sociais mostram os seus apoiantes a depositarem flores e boletins de voto onde tinham acrescentado o seu nome.

Horas antes, milhares de russos cumpriam o que o jornal independente russo Novaya Gazeta descreveu como o “testamento político de Navalny”, acorrendo às urnas precisamente às 12h e participando, na acção “Meio-dia contra Putin”, que o opositor promoveu na rede X (antigo Twitter) duas semanas antes da sua morte.

Leonid Volkov, um dos seus principais aliados, que a semana passada foi atacado com um martelo na Lituânia, estima que centenas de milhares de pessoas tenham decidido votar a essa hora em Moscovo, São Petersburgo, Ecaterimburgo e outras cidades, escreve a Reuters, sublinhando que não tem como confirmar essa descrição. Ainda assim, os jornalistas da agência internacional notaram um maior afluxo de eleitores, especialmente jovens, a essa hora em alguns locais de voto em Moscovo e Ecaterimburgo, com filas de centenas ou milhares.

Yulia Navalnaya, viúva do opositor, participou no protesto na embaixada em Berlim, enquanto muitos faziam o mesmo noutras capitais. À saída, depois de uma longa espera, Navalnaya disse aos jornalistas que tinha escrito “Navalny” no boletim de voto.

Pelo menos 80 pessoas foram detidas na Rússia durante os protestos de domingo, diz o grupo independente que monitoriza a repressão do regime OVD-Info.

Os resultados oficiais e finais só serão divulgados na segunda-feira, com os três candidatos que o regime deixou que se apresentassem – Nikolai Kharitonov, Leonid Slutsky e Vladislav Davankov –, e que apoiam a grande maioria das políticas do Presidente, a dividirem entre si os votos restantes.

Como de costume, puderam ir a votos um candidato do Partido Comunista (Kharitonov), um ultra-nacionalista (Slutsky) e um liberal (Davankov). Chegou a estar previsto outro candidato liberal, Boris Nadezhdin, que não traria qualquer ameaça a Putin, mas a sua tímida oposição à guerra valeu-lhe demasiada popularidade e a sua candidatura foi rejeitada pela Comissão Eleitoral, por alegadas irregularidades na recolha de assinaturas.

As diferenças serão curtas, mas, segundo os primeiros resultados, foi o comunista Kharitonov (que já se tinha apresentado em eleições presidenciais, há 20 anos) que se saiu melhor, obtendo pouco menos de 4% dos votos.

Eleições na Ucrânia

“Estas eleições não são obviamente livres, tendo em conta que Putin tem prendido opositores políticos e impedido outros de se candidatarem contra ele”, comentou a Casa Branca. Falando de umas “pseudo-eleições”, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão referiu-se Putin como um líder “autoritário, que depende da censura, da repressão e da violência”, pelo que “o resultado não vai surpreender ninguém”.

“As percentagens inventadas por Putin não têm evidentemente relação com a realidade”, escreveu na rede X Volkov.

Berlim lembrou ainda que as eleições se realizaram igualmente na Crimeia, ocupada pela Rússia em 2014, e nas quatro regiões ucranianas que Moscovo anexou e controla parcialmente desde a invasão da Ucrânia, há dois anos. “A ‘eleição’ nos territórios ocupados da Ucrânia é nulas e sem efeito, e mais uma violação da lei internacional”, lê-se na reacção alemã.

Em Kiev, o Presidente Volodymyr Zelensky afirmou que “não há legitimidade nesta imitação de eleições” organizada pelo “ditador russo”: “Esta pessoa devia ser julgada em Haia [sede do Tribuna Penal Internacional]. É isso que temos de garantir”.

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