Russos começaram a votar na eleição que dará a Putin mais seis anos no poder
Primeiras horas de votação com registo de vários incidentes em assembleias de voto. Presidente russo acusa Ucrânia de tentar perturbar acto eleitoral com ataques em zonas fronteiriças.
Com a certeza de que Vladimir Putin será eleito, sem oposição, para um mandato presidencial de mais seis anos, os russos começaram esta sexta-feira a votar numa eleição de três dias que decorrerá ao longo de 11 fusos horários e na qual foram registados incidentes em várias assembleias de voto nas primeiras horas da votação.
No acto eleitoral, que inclui as regiões ucranianas ilegalmente anexadas por Moscovo — Donetsk, Lugansk e Kherson —, mais de 114 milhões de russos podem votar, numa eleição que será uma mera formalidade, já que nenhum dos outros três candidatos no boletim de voto apresenta qualquer desafio credível ao actual Presidente.
Putin, de 71 anos, concorre contra o comunista Nikolai Kharitonov; Leonid Slutsky, líder do nacionalista Partido Liberal Democrático; e Vladislav Davankov, do partido Novo Povo. Dois candidatos antiguerra — Boris Nadezhdin e Yekaterina Duntsova — foram impedidos de concorrer pela comissão eleitoral, que alegou irregularidades na documentação.
Esta sexta-feira, pela voz do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a União Europeia não resistiu a utilizar a ironia para comentar o mais que certo resultado das eleições presidenciais russas.
"Gostaria de felicitar Vladimir Putin pela sua vitória esmagadora nas eleições que começam hoje. Não há oposição, não há liberdade, não há escolha", disse Michel, numa publicação na rede social X.
Apesar da falta de oposição nos boletins de voto, muitos russos não tiveram receio de mostrar o seu descontentamento com o regime logo nas primeiras horas da votação, com relatos de vários incidentes em assembleias de voto.
Em Moscovo, uma mulher terá tentado incendiar uma cabina de voto, segundo a Sky News, e em São Petersburgo foi arremessado um cocktail molotov contra uma assembleia de voto, de acordo com os media locais.
Há também relatos da detenção de pelo menos duas pessoas, acusadas de derramar líquidos nas urnas de voto, mas o número de acções semelhantes poderá ser maior.
Os investigadores em Moscovo disseram que abriram dois processos criminais, incluindo um contra uma mulher que depositou o seu boletim de voto e que depois derramou calmamente um líquido verde para o interior da urna, feita de plástico transparente.
A mulher, cujo nome não foi revelado e que foi imediatamente detida, foi posteriormente acusada de "obstrução do exercício dos direitos eleitorais ou do trabalho dos comités eleitorais", informou o serviço de imprensa do Comité de Investigação.
A presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova, avisou entretanto que as pessoas que vandalizarem urnas de voto para tentarem perturbar a votação incorrem numa pena de prisão de até cinco anos, dirigindo a mensagem "a todos os canalhas que estão prontos a destruir os votos das pessoas a troco de moedas de prata", uma referência às acusações publicadas por vários meios de comunicação social estatais de que muitos dos alegados perpetradores tinham sido pagos pelo Governo ucraniano para causar problemas.
Na Ucrânia, as autoridades instaladas pela Rússia na região de Kherson acusaram Kiev de bombardear duas assembleias de voto nas povoações de Kakhovka e Brylivka, sem causar vítimas.
O Presidente da Rússia acusou também a Ucrânia de tentar perturbar as eleições com ataques em regiões fronteiriças, nomeadamente Belgorod e Kursk. Dirigindo-se aos membros do Conselho de Segurança da Rússia, Putin disse que tais crimes não ficarão impunes.
"A fim de perturbar o processo de votação e intimidar as pessoas nas zonas fronteiriças, o regime de Kiev está a tentar levar a cabo uma série de acções criminosas, atacando povoações civis na Rússia", disse Putin.
"Estes ataques inimigos não ficarão impunes", afirmou o Presidente russo, visivelmente zangado. Putin disse que 95% dos projécteis e mísseis foram abatidos pelas defesas aéreas russas, mas alguns conseguiram passar e provocaram vítimas entre os civis russos. "Estou certo de que o nosso povo, o povo da Rússia, irá responder a esta situação com uma solidariedade ainda maior. Quem é que eles decidiram intimidar? O povo russo?"