Presidente da Autoridade Palestiniana escolhe assessor económico para primeiro-ministro
Abbas atribui a Mustafa a difícil missão “reunificar” os territórios palestinianos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e de liderar a reconstrução do enclave, palco da guerra de Israel contra o Hamas.
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana, divulgou na quinta-feira à noite um decreto presidencial através do qual nomeou Mohammed Mustafa, seu assessor para a Economia e um aliado de longa data, para o posto de primeiro-ministro.
Aos 69 anos, o antigo vice-primeiro-ministro e ministro da Economia (2013-2014), que ocupou vários cargos no Banco Mundial e que foi nomeado presidente do Fundo de Investimento da Palestina em 2015, substitui Mohammed Shtayyeh.
Shtayyeh apresentou a demissão da chefia do governo palestiniano no mês passado, justificando a decisão com os “desenvolvimentos políticos, económicos e de segurança” relacionados com a “agressão” de Israel na Faixa de Gaza e com a “escalada sem precedentes na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental”.
Reconhecida internacionalmente e dominada pela Fatah, a Autoridade Palestiniana tem competências de governação e administração nos territórios ocupado da Cisjordânia, tendo perdido, em 2007, o controlo da Faixa de Gaza, para o Hamas.
Segundo as autoridades de Saúde de Gaza, do Hamas, a operação do Exército israelita no território já matou mais de 31.300 pessoas, incluindo 12 mil crianças, e a grande maioria dos seus cerca de 2,3 milhões de habitantes estão deslocados, a necessitar de ajuda humanitária urgente.
A guerra em Gaza foi lançada na sequência do ataque do movimento islamista contra Israel, no dia 7 de Outubro do ano passado, do qual resultaram perto de 1200 mortos e mais de 240 sequestros.
Entre as tarefas que Abbas, citado pela BBC, atribuiu ao novo primeiro-ministro, destaca-se a liderança do processo de fornecimento de ajuda humanitária às vítimas de Gaza e de reconstrução do enclave, mas acima de tudo, o desenvolvimento de planos para a “reunificação das instituições nas províncias do país como uma única unidade geográfica, política, nacional e institucional”.
Esta última missão conta, no entanto, com a oposição do Governo israelita, liderado por Benjamin Netanyahu, que, para além, de continuar a afastar a solução de dois Estados, não faz qualquer referência à Autoridade Palestiniana no plano para o pós-guerra em Gaza.
Para além disso, o facto de Mustafa ter dito, em Janeiro, no Fórum Económico Mundial, em Davos, citado pela Reuters, que o ataque de 7 de Outubro foi “um sintoma de um problema maior”, nomeadamente “de o povo palestiniano estar a sofrer há 75 anos sem parar”, dificilmente terá sido bem recebido por Netanyahu, que diz recusar colaborar com qualquer dirigente palestiniano que não condene de forma veemente o ataque do Hamas.
A “continuação do processo de reformas "das instituições palestinianas”, com o objectivo de “combater a corrupção”, “assegurar a boa governação” e promover a “transparência” e a “responsabilidade”, também consta do caderno de encargos que Abbas entregou a Mustafa, que terá agora de arranjar uma equipa para formar governo.
Este compromisso da Autoridade Palestiniana com “reformas” nas suas instituições é uma das exigências que os Estados Unidos têm feito nos seus contactos com Mahmoud Abbas. A Casa Branca reagiu, por isso, positivamente à nomeação de Mohammed Mustafa para primeiro-ministro e reforçou a necessidade de haver um “Governo de reformas” em funções o mais brevemente possível.
“Uma Autoridade Palestiniana com reformas é essencial para obter resultados para o povo palestiniano e para estabelecer as condições para a estabilidade, tanto na Cisjordânia como em Gaza”, afirmou Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.