Com boina de marinheiro branca, camisa da mesma cor, mala a tiracolo e de saco transparente numa mão e uma buzina na outra, José Alves Leocádio fez mais quilómetros pelas praias do Porto do que qualquer um. Dificilmente será possível alguém ter passado pelos areais do litoral portuense sem se ter cruzado com uma das figuras mais icónicas da cidade ou sem ouvir o som do seu pregão a ganhar volume à medida que se aproximava. “Olha a batatinha frita”, é frase que faz parte (e vai continuar a fazer) do imaginário de várias gerações de banhistas. O “Senhor da Batatinha”, que há sete décadas fez da batata frita “à inglesa” o seu negócio, morreu nesta terça-feira, aos 82 anos. O funeral é na sexta-feira.
No saco transparente que carregava estavam outros sacos, de papel vegetal, com batatas cortadas em rodelas finas. Havia duas hipóteses de escolha: batatas com sal ou com pimenta. Muitos foram os que experimentaram pela primeira vez batata frita “à inglesa” frente ao mar que banha a Foz, quando ainda não era fácil encontrá-la à venda em supermercados já embalada.
No Verão, percorria a pé as praias do Porto e punha um pé em Matosinhos, onde no Inverno, junto à Rotunda da Anémona, vendia castanhas assadas. Segundo o JN, que há dois anos dedicou um texto a esta figura icónica do Porto, José Alves Leocádio nasceu em Santiago de Figueiró, em Amarante. Trabalhou na lavoura até aos oito anos, até um tio o levar para o Porto. Aos 12 anos já era vendedor ambulante, mas começou por vender caramelos. Pouco depois passou para as batatas e fez disso negócio de uma vida inteira.
Era uma figura da cidade que atravessou gerações. E em Setembro do ano passado, teve direito a homenagem feita pelo artista urbano MrKas, que pintou um mural numa parede inteira do Monte Pedral, na primeira edição do Baluarte, exposição de arte urbana organizada pela empresa municipal Ágora. Essa homenagem foi motivo para uma visita do próprio, que lá foi no dia da inauguração ver o resultado do trabalho.
José Alves Leocádio morreu na terça-feira, aos 82 anos. O funeral é na sexta-feira, às 10h, na igreja matriz de Guifões, em Matosinhos.