“Quioto não é um parque temático”: turistas proibidos de visitar bairro das gueixas

A partir de Abril, o Japão terá novas regras para turistas. Responsáveis referem incidentes causados pelos visitantes, que não respeitam limites e costumes locais.

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As gueixas são um dos símbolos mais reconhecidos da cultura japonesa Klub Boks/Pexels
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A cidade de Quioto, no Japão, decidiu impor novas regras aos turistas. A partir de Abril, os visitantes estão proibidos de circular nas ruas privadas do bairro de Gion, mais conhecido por ser o local onde trabalham as gueixas, um dos símbolos mais reconhecidos da cultura japonesa. Outros locais com elevado número de turistas também terão novas regras.

As jovens mulheres que se dedicam à arte gueixa são reconhecidas pelos seus quimonos e pelas caras pintadas de branco, com penteados trabalhados e acessórios vistosos.

De acordo com The Guardian, têm sido relatados vários episódios desconfortáveis entre gueixas e visitantes. Um grupo de habitantes do bairro de Gion conta que os visitantes não respeitam a distância para com as jovens mulheres, tirando fotos sem permissão e tocando nos quimonos sem qualquer cuidado. Referem que os turistas “estão fora de controlo” e que, muitas vezes, invadem propriedades privadas, assemelhando-se a paparazzi. “Quioto não é um parque temático”, sublinhou Isokazu Ota, funcionário da Câmara, à The Associated Press.

A partir de Abril, a circulação passa a ser controlada para carros e, principalmente, peões. A circulação pelas ruas privadas do bairro, a entrada nos restaurantes e nas casas de chá torna-se limitada às gueixas, clientes e residentes, atesta o South China Morning Post. As ruas serão devidamente sinalizadas e as multas podem chegar aos dez mil ienes (cerca de 62 euros). Anteriormente, já tinham sido instauradas medidas para tentar controlar estas abordagens, mas sem sucesso.

Ao South China Morning Post, Peter Macintosh, escritor canadiano que viveu em Quioto e organiza eventos com a presença das icónicas gueixas, contou que os turistas se aproveitam das profissionais, roubando alguns acessórios que estas ostentam no cabelo, além de continuarem a associá-las ao trabalho sexual. Macintosh recorda um episódio em que um turista atirou dinheiro e a chave do quarto a uma das artistas. Há também quem se aproprie culturalmente dos trajes das gueixas e vista os quimonos, um comportamento que causa desconforto aos locais, que se sentem desrespeitados. “É de loucos. Está completamente fora de controlo”, confessa o escritor.

Têm sido distribuídos panfletos e mensagens para tentar sensibilizar os turistas. A polícia local também tem ensinado técnicas de defesa pessoal às artistas, depois de queixas de insegurança, principalmente durante a noite. “Não queremos fazer isto, mas estamos desesperados”, sublinha o grupo de habitantes de Gion. O ponto central do bairro, a rua Hanamikoji, continuará aberto ao público. No entanto, os cidadãos também estão preocupados que o excesso de turistas que se verifica noutras ruas acabe por se concentrar nesse espaço.

O Japão tem enfrentado problemas com o elevado fluxo de turistas desde o final da pandemia. Outros locais, como o Monte Fuji, também terão novas restrições. Quem quiser subir a montanha terá de pagar 2000 ienes (cerca de 12 euros). A escolha advém do elevado número de visitantes e do lixo que é deixado para trás pelos mesmos, que chegam até a incorrer em comportamentos perigosos. A medida entrará em vigor a partir de Junho.

De acordo com a Reuters, o Japão espera ultrapassar este ano o recorde de turistas registado em 2019, quando foi visitado por 31,88 milhões de pessoas.

Texto editado por Ana Maria Henriques

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