Augusto Santos Silva defende entendimentos entre PS e PSD em áreas como a Justiça
O ainda presidente da Assembleia da República defende que o PS deve “contribuir para a estabilidade” e não estar “já a imaginar a próxima catástrofe”.
O presidente cessante da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, admite entendimentos entre PS e PSD em áreas como a justiça, defendendo que cabe ao PS "o lugar da oposição", numa entrevista hoje divulgada.
"Há matérias que, pela sua importância, aconselham a que haja diálogo, cedência mútua, negociação e compromisso entre os dois partidos, ou entre o Governo e a oposição. Uma área que está mesmo a pedir isso é área da justiça. Portanto, um ser governo e o outro ser oposição não significa que não se entendam nas áreas em que é preciso entender-se e não significa que radicalizem as suas posições, quando as suas posições são tradicionalmente próximas", defendeu Augusto Santos Silva.
Em entrevista à Rádio Renascença, o cabeça de lista socialista pelo círculo de Fora da Europa considerou que "a pior coisa que podia suceder a Portugal seria ter um bloco central assumido ou envergonhado e o Chega a liderar a oposição" e considera que é ao PS que cabe o "lugar da oposição".
"O Chega obteve um milhão e 100 mil votos, o que são 18% dos eleitores. Eu também olho para os restantes 82%. Portanto, não dêmos mais importância a um fenómeno que, na minha opinião, já tem uma gravidade assinalável", sustentou o ainda presidente do parlamento.
Sobre o futuro e a governabilidade, recusa tecer cenários: "Sei que o país já pagou um preço bastante elevado, na minha modesta opinião, por ao longo de 2023, senão mesmo ao longo de 2022, se terem sucedido os comentários sobre uma eventual interrupção da legislatura. Nós devemos contribuir para a estabilidade. Os resultados são conhecidos, portanto, é hora de construir e não de estar a imaginar já a próxima catástrofe", afirma o antigo ministro.
Augusto Santos Silva diz aguardar "com serenidade" os resultados dos círculos da emigração, dos quais depende a sua própria eleição como deputado.
O Presidente da República começa hoje a ouvir os partidos e coligações que elegeram deputados nas eleições de domingo, um processo de auscultação que se inicia com o PAN e termina no dia 20 com a AD.
O objectivo de Marcelo Rebelo de Sousa é ouvir todos os partidos políticos e coligações que estarão representados na Assembleia da República, tendo em conta os resultados provisórios anunciados pelo Ministério da Administração Interna e sem prejuízo dos círculos que ainda falta apurar.
Falta ainda contabilizar os resultados dos dois círculos da emigração - da Europa e de Fora da Europa - que elegem cada um dois deputados, o que deve acontecer no mesmo dia em que será ouvida a AD.
O artigo 187.ª da Constituição da República Portuguesa estabelece que "o primeiro-ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais".
A Aliança Democrática (AD), que junta PSD, CDS e PPM, com 29,49%, conseguiu 79 deputados na Assembleia da República, nas eleições legislativas de domingo, contra 77 do PS (28,66%), seguindo-se o Chega com 48 deputados eleitos (18,06%).
A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados. O Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares e ficou com quatro deputados.