O FC Porto tem um novo Otávio – e este também parece decisivo
Nos cinco jogos desde que Otávio entrou na defesa do FC Porto, a equipa melhorou todos os parâmetros defensivos relevantes e o jogador tem superado individualmente o desempenho de Fábio Cardoso.
Quando vendeu Otávio para a Arábia Saudita, o FC Porto ficou com um problema em mãos. Quem faria a posição de falso-ala, com capacidade para ser, em simultâneo, um criativo a desequilibrar e um lutador a fechar como terceiro médio? As experiências foram variadas e acabaram com a desistência de Sérgio Conceição: mais do que um novo Otávio, inventou um novo sistema que permitisse os mesmos equilíbrios.
Em 2024, apareceu um novo Otávio. E a substituição não é apenas no nome. Por se tratar de ser um defesa-central – e, por isso, longe de uma alternativa ao médio brasileiro que partiu –, este Otávio também ajuda a que o FC Porto defenda melhor. A partida do antigo Otávio “empenou” o FC Porto, mas a chegada do novo permitiu reequilibrar a coisa.
Desde que chegou do Famalicão, no mercado de Inverno, o central brasileiro, de 21 anos, já participou em cinco jogos. A melhoria do nível defensivo do FC Porto era algo que a observação a nu sugeria, parecendo uma equipa menos exposta. E os números confirmam.
Um levantamento com recurso ao site FotMob mostra que nos dez jogos anteriores à entrada de Otávio no “onze” o FC Porto tinha 0,8 golos sofridos por jogo, 9,5 remates concedidos, 1,04 golos esperados contra, 1,7 oportunidades claras de golo permitidas e permitia 14,2 toques na bola ao adversário na sua área.
Nos cinco jogos com Otávio, todos estes valores desceram – alguns de forma clara. São, agora, apenas 0,2 golos sofridos (foi o golo do Gil Vicente), 6,8 remates permitidos, 0,35 golos esperados contra, uma grande oportunidade concedida e 12 toques na sua área.
Estas duas últimas métricas tiveram descidas pouco expressivas, mas enquadram-se, ainda assim, na tendência de descida de todas as vertentes defensivas analisadas.
Há ainda um dado menos claro, porque Otávio é só um, mas o valor de duelos ganhos por jogo também cresceu – apenas com o Estrela da Amadora a equipa não ganhou mais duelos do que perdeu, enquanto nos jogos antes desse vinha a ser superada algumas vezes.
Defender mais alto
Tudo isto ganha maior significado se tivermos em conta que não têm existido especiais alterações na equipa. O sistema continua a ser o mesmo e os jogadores, com uma ou outra variação, são globalmente os mesmos.
A diferença é Otávio. E ter Otávio não é estar apenas a conceder menos aos adversários, mas também defender de forma diferente. O central brasileiro, contundente nos duelos e rápido no controlo da profundidade, permite ao FC Porto defender uns bons metros mais acima, já que ou ganha mais duelos na zona de meio-campo, pela força física e bom tempo de corte, ou, caso seja batido, tem muito maior capacidade do que Fábio Cardoso para ir atrás dos adversários.
Essas duas valências permitem ao FC Porto contornar uma lacuna que se verificou durante largas semanas desta temporada, que foi a forma como a defesa era obrigada a compensar a falta de velocidade do central da esquerda, deixando algum espaço entre a linha média e a defensiva.
Sem que este seja um dado definitivo e de relevância indiscutível, é, ainda assim, curioso perceber que, individualmente, Otávio no FC Porto tem recebido uma média de 7,4 pontos por jogo no FotMob, contra apenas 6,8 de Fábio Cardoso na sua média de temporada em jogos de 90 minutos – valor que já vai para o espectro de desempenho negativo segundo a métrica do site de estatísticas.
Também como curiosidade, já que é difícil medir o impacto prático deste pormenor, João Mário e Wendell já marcaram golos neste cinco jogos com Otávio e, sobretudo no caso do brasileiro, parece haver uma maior propensão ofensiva.
Pode ser coincidência? Pode. É preciso uma amostra maior? Talvez sim. Mas ter Otávio ao lado será, no plano teórico, um descanso para qualquer lateral – sobretudo um como Wendell, cujas armas ofensivas são infinitamente superiores às defensivas.