Nuno Vaz: de chefe de naipe a solista
Uma leitura muito “clássica”, fluida e comedida nos contrastes na interpretação do Concerto para trompa e orquestra nº 2 de Mozart.
Mais informais do que os concertos da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música à noite ou ao final da tarde, os concertos ao meio-dia de domingo, sem intervalo e com cerca de uma hora de duração, são tanto para quem quer entrar no mundo da música como para quem não teve oportunidade de assistir ao programa completo na sexta-feira à noite. A competir com as eleições, o concerto deste domingo teve uma plateia bem composta que acorreu à Sala Suggia para melhor conhecer a trompa.
Omitindo a Sinfonia nº 1 de Weber, que fizera parte do programa de sexta-feira, a orquestra interpretou Abertura, Scherzo e Finale, op. 52 (1841/1845), de Robert Schumann (1810-1856), e o Concerto para trompa e orquestra nº 2, em mi bemol maior, K 417 (1783), de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791).
Se a partitura de Schumann não é particularmente interessante, a verdade é que também não parece que a orquestra tenha empenhado demasiada energia a tentar conferir à obra o que o compositor não conseguiu (com nota de especial desencanto nas flautas).
O melhor estava ainda por vir. Após breves mudanças no palco, André Quelhas entra com o trompista Nuno Vaz – chefe de naipe da orquestra, agora no papel de solista – para contar em poucas palavras a história do instrumento e para partilhar algumas curiosidades sobre a obra de Mozart que, de seguida, seria dada a escutar. Saliente-se a importância desta actividade na formação do público, aqui com mais crianças do que nos concertos de sexta-feira à noite. Não sendo um concerto pensado para público infantil, as histórias em torno da música ajudarão certamente a prender a atenção e fixar na memória alguns aspectos que contribuirão para uma escuta mais informada.
Com o auxílio de uma shofar, uma trompa natural e uma moderna e, mais importante, de um excelente trompista, André Quelhas demonstra como é produzido o som, evidenciando as diferenças tímbricas entre as trompas natural e moderna. Pouco evidente ficou a dificuldade de fazer soar melodias com notas limpas, já que Nuno Vaz é um excelente profissional. Com o auxílio da orquestra e do solista, seguiu-se a apresentação de temas e questões de estilo presentes no primeiro e no terceiro andamentos do Concerto, momento após o qual foi possível escutar a obra do início ao fim.
Talvez o maestro alemão Michael Sanderling tenha dedicado maior atenção à obra de Mozart, talvez a orquestra se tenha sentido mais motivada com a música do compositor austríaco ou, simplesmente, tenha colocado especial entusiasmo no trabalho com um colega como solista. Certo é que o resultado musical foi bastante superior na interpretação do Concerto de Mozart: uma leitura muito “clássica”, fluida e comedida nos contrastes. Apenas no terceiro andamento se notou um levíssimo diferendo de vontades entre orquestra e solista, com este a tentar, em vão, puxar o conjunto para algo ligeiramente mais vivo.
Bastante vivos foram os aplausos do público que se ergueu para saudar os músicos.