Diplomatas estrangeiros começam a abandonar o Haiti

O Pentágono realizou uma operação para retirar pessoal não essencial da embaixada norte-americana e diplomatas europeus também saíram do país. Violência não dá sinais de cessar.

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Militares patrulham Port-au-Prince durante a onda de violência protagonizada por grupos criminosos Reuters/RALPH TEDY EROL
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Em resposta ao recrudescimento da onda de violência no Haiti, os EUA anunciaram a retirada de todos os funcionários não essenciais da embaixada norte-americana no país. A representação diplomática da União Europeia suspendeu as suas actividades.

Há mais de uma semana que os grupos criminosos haitianos controlam praticamente toda a capital do país, Port-au-Prince. Foram atacadas duas prisões, e libertados quase quatro mil detidos, inúmeros edifícios governamentais, o porto e o aeroporto. Os gangs exigem que o primeiro-ministro, Ariel Henry, se demita, considerando-o ilegítimo.

Durante o fim-de-semana, a situação agravou-se. Um grupo de homens armados incendiou o edifício do Ministério do Interior e atacou o Palácio Nacional, antes de serem repelidos pelas forças de segurança, segundo o Guardian.

Há relatos de que o Hospital da Universidade Estatal do Haiti, em Port-au-Prince, está praticamente ao abandono e a BBC refere, por exemplo, imagens de um cadáver numa maca, ao lado de pacientes, sem que ninguém o retire. “Não há médicos, fugiram todos na semana passada”, disse Philippe, um paciente citado pela emissora britânica.

“A baixa de Port-au-Prince caiu, já não há dúvidas sobre isso”, escrevia o jornal Le Nouvellist na sua edição de sábado, ao lado de uma fotografia de uma esquadra em chamas. A polícia, que é subfinanciada, tem falta de pessoal e menos armas do que os grupos criminosos, já admitiu que não consegue controlar a situação na capital.

Há muito que os gangs já controlavam grande parte da capital, beneficiando do constante clima de instabilidade política no Haiti. A crise actual foi desencadeada com o assassínio do Presidente Jovenel Moïse, em Julho de 2021. Henry tomou posse pouco de seguida, acumulando o cargo de Presidente interino, com a promessa de que iria convocar eleições no curto prazo. No entanto, há sete anos que não são realizadas eleições no Haiti, aprofundando o vácuo político.

Na semana passada, Henry saiu do país para participar numa cimeira na Guiana e para visitar o Quénia, onde pretendia assinar um acordo com o Governo local para o envio de uma força policial multinacional. Com o governante fora do país, os gangs aproveitaram para aumentar o seu controlo sobre a capital para exigir a demissão de Henry.

O primeiro-ministro tentou regressar ao país, mas não conseguiu aterrar em Port-au-Prince e encontra-se actualmente em Porto Rico, sem saber quando poderá viajar. Até ao momento, Henry não deu qualquer sinal de que pretende abandonar o poder, apesar da pressão internacional para que o faça.

Vários governos estrangeiros têm emitido avisos aos seus cidadãos para abandonarem o Haiti e já há embaixadas encerradas.

O Pentágono confirmou que foi realizada uma operação durante o fim-de-semana para a retirada por helicóptero do pessoal não essencial da embaixada norte-americana. “Este transporte aéreo de pessoal para e da embaixada é coerente com as práticas-padrão de incremento da segurança das embaixadas em todo o mundo, e não havia haitianos a bordo da aeronave militar”, informou o Comando Sul dos EUA através de um comunicado citado pela Reuters.

A representação diplomática da UE encerrou temporariamente o seu gabinete e reduziu a presença no Haiti ao mínimo indispensável.

O embaixador alemão e outros diplomatas também abandonaram o país e encontram-se na República Dominicana, país que partilha a mesma ilha com o Haiti, a partir de onde vão continuar a trabalhar.

Entretanto, esta segunda-feira o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, viajou para a Jamaica para participar numa cimeira regional em que a crise no Haiti será debatida. Em cima da mesa está a forma como poderá ser feita uma transição política no país para evitar o agravamento da situação humanitária.

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