Pelo menos 70 países comprometeram-se na sexta-feira em Paris a rever e a adaptar a forma de construir edifícios, para travar o aquecimento global e, ao mesmo tempo, proteger os edifícios das ondas de calor e das intempéries. Pretende-se nomeadamente privilegiar a renovação em detrimento da construção nova e reutilizar materiais.
Os ministros com as áreas do ambiente ou da construção dos países signatários — entre os quais os Estados Unidos, a Costa do Marfim e a Arábia Saudita, mas não a China — adoptaram a "Declaração de Chaillot", nome do palácio parisiense onde foi concluído o compromisso no primeiro "Fórum Mundial sobre Edifícios e Clima", organizado pela Agência das Nações Unidas para o Ambiente e pelo governo francês.
"A declaração continua aberta a novos apoios e tem a virtude de reunir mais países nas próximas semanas", sublinhou o Ministério da Transição Ecológica francês, que espera reunir mais assinaturas até ao próximo Fórum Urbano Mundial, no Cairo, e à próxima Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP29), em Bacu, no Azerbaijão, ambos em Novembro.
Descarbonizar o sector da construção
O objectivo é descarbonizar a indústria da construção, um dos principais emissores de gases com efeito de estufa, responsáveis pelo aumento da temperatura global, e ao mesmo tempo tornar os edifícios mais resistentes às tempestades, inundações e ondas de calor que estão a aumentar, especialmente nos países mais vulneráveis do Sul.
Pela primeira vez, construtores, arquitectos, engenheiros, gabinetes de estudos e fabricantes de materiais de todo o mundo reuniram-se com diplomatas e doadores internacionais para debater a questão climática.
Regina Gonthier, presidente da União Internacional dos Arquitectos, afirmou publicamente o compromisso da profissão, adoptado no Verão passado, de "dar prioridade à renovação dos edifícios existentes de forma virtuosa, em vez de construir novos edifícios".
A situação é urgente e a construção é um sector em que "as emissões globais de gases com efeito de estufa continuam a aumentar" e que "não está no bom caminho para atingir a descarbonização até 2050", diz a declaração adoptada.
Lígia Noronha, subsecretária-geral da ONU, salientou que "a participação do sector privado terá de atingir mais de 24 mil milhões de euros em 2030 para atingir esse zero líquido": "É necessário redireccionar os fluxos financeiros", bem como um "quadro regulamentar propício", declarou.
Mas "110 países não têm normas obrigatórias em matéria de eficiência energética", lamentou o director executivo da Agência Internacional da Energia, Fatih Birol.
A ONU estima que, até 2060, o mundo terá duplicado a área construída e quase duplicado o consumo de matérias-primas, a maioria das quais será utilizada na construção. O sector é actualmente responsável por 21% das emissões globais de gases com efeito de estufa e 37% das emissões de dióxido de carbono (CO2) relacionadas com a energia.
É também responsável por 34% da procura de energia para aquecimento e arrefecimento e capta metade do consumo mundial de matérias-primas, de acordo com a declaração. Além disso, todos os anos são gerados 100 mil milhões de toneladas de resíduos de construção em demolições e renovações, a maioria dos quais não é reutilizada e 35% acaba em aterros.
Até 2060, prevê-se que a duplicação das áreas construídas acrescente mais de 230 mil milhões de metros quadrados de área construída. Em África, este valor poderá triplicar, ou mesmo quadruplicar nos países em rápida urbanização, refere o documento.
Entre os compromissos assumidos pelos participantes estão a necessidade de economizar água e energia, reduzir ao máximo as instalações de ar condicionado, favorecendo a circulação do ar no interior dos edifícios, e desenvolver a formação da mão-de-obra para levar a cabo esta tarefa.